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    tragédia no rio doce

    'Pulei de telhado em telhado', diz jovem que escapou de acidente em MG

    JOSÉ MARQUES
    ENVIADO ESPECIAL A MARIANA (MG)

    06/11/2015 02h00

    Hugo Cordeiro/Agência Estado/Xinhua
    Homens buscam informações em meio a casas destruídas pela lama após queda de barragem
    Homens buscam informações em meio a casas destruídas pela lama após queda de barragem

    "A barragem estourou, a barragem estourou", gritava a vizinha de Marcos Júnior de Souza, 15. O menino, que se preparava para tomar banho, não acreditou. "Como a minha vida inteira falaram que a barragem iria estourar, não liguei. Até que eu vi a água invadir a minha casa", conta.

    Com a água subindo cada vez mais rápido, Marcos, que estava sozinho, correu para escapar. "Resolvi sair pela janela. Subi no teto e fui pulando de telhado em telhado." Com a ajuda de vizinhos, chegou ao alto do morro e deixou seu vilarejo para trás.

    Cerca de 500 pessoas já tinham sido resgatadas no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (a 116 km de Belo Horizonte, Minas Gerais), até a manhã desta sexta-feira (6), segundo informação dos bombeiros de Belo Horizonte. Antes de serem liberadas para o abrigo, as vítimas passam por um processo de descontaminação para se livrar de resíduos de minério de ferro e produtos químicos que estavam misturados na lama que atingiu os dois distritos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Um "tsunami de lama" destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões e deixou ao menos um morto e cerca de 25 desaparecidos nesta quinta (5), num subdistrito da cidade histórica de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), após duas barragens de uma mineradora se romperem.

    O acidente ocorreu por volta das 15h30, em Bento Rodrigues, a 15 km do centro de Mariana. A vila, que tem 121 casas e 492 moradores, segundo o IBGE, foi totalmente inundada pela lama. Quatro helicópteros foram enviados ao local para resgatar moradores que ficaram ilhados.

    Muitos dos moradores do subdistrito de Bento Rodrigues afirmam que o alerta sobre o rompimento das barragens foi dado pelos vizinhos.

    "Não teve aviso, sirene, nada", conta o aposentado Marcílio Ferreira, 72, que estava em sua plantação de alface quando ouviu os gritos da vizinhança e deixou o local.

    O menino Jonatas Ferreira Coelho, 14, estava na sala de aula quando a diretora entrou correndo e mandou todo mundo "ir pro mato" o mais rápido possível. "As professoras ficaram nos orientando a subir para qualquer lugar alto", conta o garoto.

    Os três estavam, na noite desta quinta-feira (5), em uma escola no vilarejo de Santa Rita Durão, ao lado de Bento Rodrigues. Lá, tomavam banho, ganhavam roupas novas e esperavam o dia seguinte, quando as buscas deverão ser retomadas.

    "Passou um caminhão buzinando e nos mandando subir. A gente começou a correr, foi um atropelando o outro. um desespero total. Não sei o que aconteceu com quem não conseguiu subir", disse a dona de casa Alexleila Agda dos Santos. Emocionada, ela ainda contou que viu o tio ser soterrado pela lama. "Acho que ele morreu."

    Mas dezenas de pessoas não conseguiram deixar o local. Moradores disseram que havia um grupo ilhado próximo a uma caixa d'água.

    Veja vídeo

    DESESPERO

    Desde o começo da noite, quase não havia informações, já que os celulares não funcionavam em Santa Rita Durão e Bento Rodrigues.

    Nos hospitais da região, dezenas de pessoas se amontoavam à espera de informações sobre mortos e feridos.

    Sem conseguir falar com os parentes que moram no vilarejo de Bento Rodrigues, a cabeleireira Uislaine Aparecida, 33, correu para o ginásio de esportes de Mariana.

    "O telefone não funciona, ninguém dá notícias", desesperava-se ela. O ginásio era um dos locais usados pela prefeitura para receber os desabrigados. Assim como ela, dezenas de pessoas foram ao ginásio em busca de notícias sobre parentes e amigos.

    O auxiliar Lucas Oliveira, 24, que trabalha na Samarco e estava na usina de Germano, próxima à barragem do Fundão, também foi ao local em busca de informações. Mas, diferentemente da maioria, ele conseguiu falar com amigos e parentes –nenhum deles estava em Bento Rodrigues no momento do rompimento das barragens.

    A pedido da Prefeitura de Mariana, cerca de 200 pessoas correram para o ginásio, no centro de Mariana, levando colchões, roupas de cama, garrafas de água e comida.

    Infográfico: Barragem se rompe em MG

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