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    tragédia no rio doce

    Família espalha cartazes de menina de 5 anos que sumiu na lama

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    06/11/2015 20h38

    Emanuelly, 5, escapou dos braços do pai, Wesley Isabel, 23, e sumiu na lama que cobriu o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), após o rompimento de duas barragens de uma mineradora nesta quinta-feira (5).

    Desde o desaparecimento da menina, a família espalhou cartazes pelo centro de acolhida dos desabrigados e hospitais com foto da menina e telefones de contato de parentes.

    Wesley estava com a menina e o outro filho, Nicolas, 3, na casa onde moravam no subdistrito quando recebeu o aviso para fugir para uma parte alta da comunidade e escapar, assim, do mar de lama. A mãe das crianças já havia sido socorrida por vizinhos.

    O pai agarrou as duas crianças e atravessava a rua quando foi atingido pela lama. Vizinhos conseguiram puxar Wesley e Nicolas, mas Emanuelly se perdeu.

    O pai está internado no hospital Santa Bárbara com fratura nas pernas. Já o garoto segue no hospital João 23 sob tratamento –ele está com água nos pulmões, conta a tia Débora Monteiro da Silva, 23.

    "A gente não sabe o que fazer, fomos em todos os hospitais e ninguém dá informação. O pessoal do resgate não nos explica nada", diz a tia.

    Ela esteve próxima do local devastado. Segundo Débora, Bento Rodrigues "é só lama". "Tudo é lama, não tem nem como descrever. Pessoal perdeu tudo: casa, carro, documentos."

    Veja vídeo

    ACIDENTE

    Duas barragens de uma mineradora se romperam em Bento Rodrigues, a 35 km histórica de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais, na quinta-feira (5). Um "tsunami de lama" destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões.

    O acidente ocorreu por volta das 15h30 na vila que tem 121 casas e 492 moradores, segundo o IBGE. Na hora do rompimento, um funcionário da empresa Samarco, responsável pela barragem de contenção de rejeitos, morreu no local. De 25 a 30 funcionários estavam no local.

    Sete carros dos bombeiros de Belo Horizonte, dois de Ouro Preto e helicópteros com cães farejadores foram enviados a Mariana, que foi isolada. A cidade não possui bombeiros militares, apenas civis.

    Segundo Sérgio de Moura, diretor do Metabase (sindicato dos trabalhadores na indústria de mineração de Mariana), a Samarco disse que houve abalos sísmicos na região às 14h. O observatório da USP registrou, a 22 km do local, tremor de 2,55 na escala Richter, mas considerado de baixo impacto (com até 3 na escala, nem costuma ser sentido pelas pessoas). O rompimento ocorreu uma hora e meia depois.

    O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito, conduzido por cinco promotores, para apurar as causas e responsabilidades. Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, é prematuro tirar conclusões, mas ele descarta se tratar de um "acaso". "Nenhuma barragem se rompe por acaso, isso não é uma fatalidade. Precisamos de rigor nesta apuração."

    A presidente Dilma Rousseff colocou à disposição as forças nacionais para ajudar no resgate de desaparecidos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    OUTROS CASOS

    Em 2014, um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos.

    Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

    Em 27 de maio de 2009, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.

    Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

    Cinco anos antes, uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios.

    Os municípios mais atingidos pela enchente -Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como "brejo" -que divide o litoral do sertão.

    Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade.

    Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.

    Veja vídeo

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