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    tragédia no rio doce

    Com o pai no hospital, menina de 5 anos levada pela lama é enterrada

    JOSÉ MARQUES
    ENVIADO ESPECIAL A MARIANA (MG)

    11/11/2015 02h00

    O pai de Emanuelly Vitória, 5, uma das vítimas do mar de lama que arrasou distritos de Mariana (MG) depois do rompimento de barragens da mineradora Samarco, não pôde enterrar a própria filha.

    No mesmo momento em que o caixão lacrado da menina era agarrado pela mãe, Pamela, o pai, Wesley Isabel, 23, era operado em Santa Bárbara, a 76 km de Mariana, nesta terça-feira (10).

    Ele quebrou as duas pernas no instante em que segurava Emanuelly e o outro filho, Nicolas, de três anos, na tentativa de fugir do vilarejo de Bento Rodrigues. Pai e filho sobreviveram, mas a menina escorregou de seus braços e foi carregada pelo barro.

    O corpo foi encontrado na noite de segunda (9), a cerca de 70 km do local do acidente, e identificado nesta terça. Segundo o delegado Rodrigo Bustamante, a criança foi reconhecida pela família em razão do cabelo, do formato do pé e da arcada dentária.

    Emanuelly foi a primeira criança encontrada -ainda há outras quatro desaparecidas, além de 17 adultos. Outras três vítimas já foram identificadas e dois corpos foram resgatados, mas ainda não foram reconhecidos.

    O funeral foi acompanhado por dezenas de moradores do vilarejo de Bento Rodrigues, o mais atingido pelo rompimento das barragens, onde a família vivia.

    O velório transcorreu com o caixão fechado. Quando o corpo estava sendo levado para o carro funerário, a mãe da menina desmaiou e foi amparada por parentes.

    O velório e o enterro duraram menos de uma hora. Entre amigos e parentes, mais de cem pessoas estiveram presentes nas cerimônias.

    O tio da menina, Wellinton Isabel, disse que, apesar da dor, a família está mais aliviada após o corpo ser encontrado. "Para nós ela já tinha ido. Vimos a enxurrada levá-la", disse a tia Luciane Coelho, 35.

    CASAS ALUGADAS

    As 183 famílias que perderam a casa devido ao rompimento das barragens da Samarco, empresa que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, serão realocadas em casas e terão o aluguel pago pela mineradora.

    A medida foi definida em reunião de representantes da empresa com a Defensoria Pública e o Ministério Público.

    "O que ainda precisa ser definido é o cronograma e a mecânica dessa operação. A Samarco diz que já encontrou vários imóveis para colocar as pessoas", disse o defensor público Aylton Magalhães.

    As 631 pessoas atingidas pela tragédia estão abrigadas em hotéis e pousadas. Enquanto isso, a mancha de lama continua avançando pelo rio Doce, afetando 15 cidades de Minas e do Espírito Santo.

    Na mineira Governador Valadares, o abastecimento de água foi suspenso na tarde de domingo, e nesta terça duas universidades suspenderam as aulas devido à interrupção. Cerca de 6.500 alunos foram afetados pela paralisação.

    Segundo a prefeita Elisa Costa (PT), que decretou calamidade pública, as reservas de água tratada chegariam ao fim na tarde desta terça, mas escolas, hospitais e asilos estão sendo abastecidos por carros-pipa.

    O Ministério Público ingressou com uma ação contra a Samarco, na qual cita os prejuízos causados à saúde, à segurança e ao bem-estar da população, além do prejuízo a atividades econômicas e sociais. A ação faz uma série de pedidos, como fornecimento de água e combustível para carros-pipa, sob pena de multa diária de R$ 1 milhão.

    A Justiça capixaba determinou que a empresa disponibilize helicóptero para que os órgãos ambientais monitorem o curso do rio Doce. A empresa diz que forneceu o helicóptero antes do pedido.

    Colaborou ZANA FREITAS, em Governador Valadares (MG)

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