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    Trabalho infantil tem primeira alta em dez anos, aponta IBGE

    LUCAS VETTORAZZO
    BRUNA FANTTI
    BRUNO VILLAS BÔAS
    DO RIO

    13/11/2015 10h00 - Atualizado às 21h35

    Ricardo Borges/Folhapress
    Adolescente de 13 anos trabalha na estação central vendendo balas em ônibus, no Rio
    Adolescente de 13 anos trabalha na estação central vendendo balas em ônibus, no Rio

    Após nove anos em queda no país, o trabalho infantil, de crianças entre 5 e 13 anos, teve sua primeira alta da década em 2014, apontou a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada nesta sexta (13).

    No ano passado, 554 mil menores dessa faixa etária estavam nessa condição, aumento de 9,48% em relação às 506 mil de 2013.

    Ainda que seja proibido por lei crianças trabalharem antes dos 14 anos, 48 mil passaram a exercer funções no mercado, principalmente em zonas urbanas das regiões Sudeste e Nordeste.

    Especial Pnad

    A zona rural ainda concentra a maioria (62,1%) das crianças entre 5 e 13 anos ocupadas. Seus rendimentos mensais eram, em média, de R$ 215. Segundo os dados, 45% delas nem sequer recebiam salário.

    A legislação brasileira permite o trabalho a partir dos 14 anos como aprendiz, com jornada reduzida, fora de postos insalubres ou perigosos e simultaneamente aos estudos.

    Segundo o gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a situação tem origem, entre outros fatores, na piora do desemprego no país.

    O aumento do número de trabalhadores por conta própria, disse, fez crescer também a quantidade de crianças no mercado informal.

    A hipótese levantada é que esses trabalhadores, depois de demitidos, abrem pequenos negócios e atraem outros membros da família, como crianças e idosos, para ajudar. "É um auxílio não remunerado", disse.

    Infográfico: Trabalho infantil

    EXPLICAÇÕES

    A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, disse que o governo federal ainda não encontrou explicações para a situação.

    Ela considerou que os dados referentes a 2013 podem estar fora da curva, já que os de 2014 são próximos aos de 2012 (561 mil).

    Segundo ela, o corte de R$ 10 bilhões na previsão de despesas do Bolsa Família no ano que vem, sugerido pelo relator do orçamento na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), poderia agravar a situação.

    "Teria um impacto não só no nível de renda da população pobre mas, no curto prazo, no trabalho infantil e na presença dessas crianças na escola", disse.

    TRAJETÓRIA

    De acordo com a secretária-executiva do FNPETI (Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil), Isa Oliveira, mantidas as condições atuais da economia, o trabalho infantil deve continuar a subir em 2015.

    "Esse número é uma tragédia e expõe a falta de cuidado do poder público em proteger as crianças", afirmou.

    O trabalho infantil vinha em trajetória de queda desde 2004, início da série histórica do IBGE, quando 2,4 milhões de crianças se encontravam nessa condição. Três anos depois, o indicador havia caído a metade (1,3 milhão).

    Na passagem de 2013 para 2014, a faixa etária que apresentou a maior alta foi das crianças de cinco a nove anos: 15,5%, de 61 para 70 mil.

    M.S., 13, vendedor ambulante no centro do Rio, integra a estatística. Desde os sete, trabalha em terminais de ônibus, vendendo balas e biscoitos. Filho de uma cabeleireira, herdou a profissão do pai, que o ensinou a contar antes de aprender a ler.

    Ele estuda antes de começar o expediente de oito horas por dia, das 13h às 21h.

    "Consigo ganhar R$ 500 por mês. Fico com R$ 200 e entrego o restante para o dono da mercadoria", diz, inclinando a cabeça na direção de um homem na faixa dos 40, que o chama assim que percebe a reportagem.

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