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    tragédia no rio doce

    Força-tarefa resgata peixes de rio às vésperas de enxurrada de lama

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO
    FABIO BRAGA
    ENVIADO ESPECIAL A COLATINA (ES)

    14/11/2015 02h00

    Uma força-tarefa emergencial com pescadores amadores e ribeirinhos que vivem da pesca resgatou peixes no rio Doce em Colatina (ES) antes da chegada da lama vinda das barragens que se romperam em Mariana (MG), no dia 5.

    Por onde passou, a lama densa com rejeitos de minério deixou sete mortos e 18 desaparecidos, enterrou vilarejos, provocou a mortandade de peixes e suspendeu o fornecimento de água.

    O rastro de lama que saiu do subdistrito de Bento Rodrigues passou por Governador Valadares no fim de semana e, nesta sexta-feira (13), se aproximava de Aimorés, a 50 quilômetros de Colatina.

    Para evitar a morte dos peixes na região, a "Arca de Noé capixaba" –como foi batizada a força-tarefa que conta com apoio dos Ministérios Público Federal e Estadual– reuniu 40 pessoas às margens do rio nesta sexta.

    Rio adentro, a tarefa de buscar peixes, camarões e lagostas com redes e barcos ficou com pescadores da cidade. Na margem, passaram por triagem para serem depositados em seis grandes tanques e levados a uma lagoa protegida.

    Até a tarde, o grupo estimava ter recolhido cerca de 5.000 peixes. "Priorizamos os peixes menores, até por questão de logística e de chance de eles sobreviverem", disse Edson Figueiredo Negrelli, da Apesc, a associação de pesca amadora de Colatina.

    'PIOR QUE O TIETÊ'

    A Justiça de Minas Gerais determinou o bloqueio de R$ 300 milhões na conta da Samarco. A decisão liminar decorre de ação civil pública do Ministério Público Estadual, que listou mais de 500 desabrigados pelo rompimento das barragens. O valor deve ser revertido para reparação dos danos às vítimas.

    "Você que está aí nesse rio de São Paulo, o Tietê... Olha, minha filha, o nosso aqui está bem pior que o seu. 'Cabou' o rio Doce." O lamento é do pescador Gercelmino Correa, de Governador Valadares.

    Com 66 anos de idade, 45 dedicados à pesca, ele conta nunca ter visto uma cena como a que deixou o rio Doce repleto de barro e com forte cor vermelha. "Aqui não tem só lama, não, tem minério também", justifica.

    Acostumado a pegar de 15 kg a 20 kg de peixes por dia, o pescador conta que ele e os colegas já notavam que o rio sofria com a forte estiagem e o assoreamento. "Agora, nosso futuro só Deus sabe."

    Em Baixo Guandu, primeira cidade capixaba no curso do rio Doce, onde a lama deve chegar na segunda (16), Anízio Gomes da Silva, 56, dono de uma revenda de pescado, não vende nada desde o último fim de semana. "Parou tudo por aqui desde que começou essa história de lama", lamenta. "Os peixes vão morrer no rio, porque ninguém está tirando nada."

    Os efeitos da tragédia são sentidos também na aldeia indígena Krenak, a 16 km de Resplendor (MG). A lama atingiu a comunidade antes de chegar à cidade, na sexta.

    Os índios, que pegavam água do rio Doce porque o córrego deles secou na estiagem, ficaram sem abastecimento e agora dependem de doação de água mineral.

    Colaboraram ZANA FERREIRA, em Governador Valadares, e ALEX CAVALCANTI, em Vitória

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