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    Incêndio na Chapada Diamantina (BA) é um dos três maiores deste século

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    ENVIADO ESPECIAL A LENÇÓIS E PALMEIRAS (BA)

    21/11/2015 02h00 - Atualizado às 16h43

    Joel Silva/Folhapress
    Vista aérea de um dos focos de incêndio, na Chapada Diamantina
    Vista aérea de um dos focos de incêndio em mata, na Chapada Diamantina (BA)

    "A sujeira da fuligem incomoda, a fumaça também, mas o que mais dói mesmo é ver a mata sendo destruída. Vai levar pelo menos 30 anos para se recuperar", diz o lavrador Vilson Evangelista, 50.

    Morador da comunidade de Conceição dos Gatos, em Palmeiras (BA), ele olhava incrédulo as grandes labaredas nas escarpas ao fundo de sua casa nesta sexta-feira (20).

    E não é um caso isolado. Os vales esverdeados da Chapada Diamantina, onde a mata atlântica se encontra com o cerrado e a caatinga, estão virando cinzas pela sétima vez nos últimos 15 anos.

    O incêndio é considerado um dos três piores deste século no local. Estima-se que o fogo tenha consumido a vegetação em uma área equivalente a 30 mil campos de futebol.

    "Do ponto de vista ambiental, é uma catástrofe", diz o secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eugênio Spengler.

    Os primeiros focos de incêndio surgiram há 25 dias. Desde então, o fogo alastrou-se até atingir o Parque Nacional da Chapada Diamantina, unidade de conservação.

    Nesta sexta, a Folha acompanhou um sobrevoo da Força Aérea Brasileira pela região para levar um grupo de brigadistas ao Vale do Capão, uma área isolada do parque.

    Em diversos trechos, era possível ver focos de incêndio entre os vales e serras da região, além de grandes áreas devastadas e acinzentadas.

    Uma das maiores preocupações é com o avanço do fogo na região do Morro Branco, no Vale do Capão. A área é uma das principais rotas do turismo ecológico da região.

    As chamas também chegaram perto do Morro do Pai Inácio, um dos mais visitados da Chapada. Além de destruir a vegetação, o fogo afugentou os turistas dali.

    O impacto da erosão e do assoreamento nos mananciais é a principal preocupação no médio e longo prazo, pois a região concentra nascentes dos principais rios da Bahia, inclusive o Paraguaçu, que serve 2,5 milhões de pessoas na Grande Salvador.

    Em rios como o das Águas Claras e o do Cercado, a mata ciliar foi destruída de uma margem à outra.

    Os bombeiros ainda não conseguiram identificar as causas do fogo. Já o governo acionou uma equipe de policiais de Salvador para investigar o caso. "Temos indícios de que alguns dos incêndios foram criminosos", afirma Eugênio Spengler.

    A região não tem estrutura específica para investigação de crimes ambientais. A unidade dos bombeiros especializada no combate a incêndios ambientais, inaugurada em 2014, não tem pessoal nem equipamentos adequados.

    "A estrutura fixa que temos hoje não é a ideal. Mas o mais importante é que as ações sejam rápidas e coordenadas nos casos de emergência", afirma o secretário.

    A atual estrutura de apoio conta com 11 aeronaves e uma centena de bombeiros. Mas são os voluntários, que passam as noites na mata apagando o fogo, que costumam ir aos pontos mais isolados.

    "Para a gente que nasceu e vive na Chapada é uma tristeza. Mas, enquanto tiver fogo, nós estaremos aqui para combater", diz o estudante Gabriel dos Mundos, 22, minutos antes de encarar meia hora de trilha até o topo de uma montanha em chamas.

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