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    Com música e batuque, mães da Fundação Casa ampliam vínculo com bebê

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    22/11/2015 02h00

    Desde agosto deste ano, todas as quintas-feiras, às 10h, um grupo de adolescentes forma uma roda e começa a batucar instrumentos musicais, cantarolar versos como "um abraço no seu coração" e a dançar com seus bebês, alguns ainda no ventre.

    Difícil imaginar que as meninas-mães, com idades entre 14 e 18 anos, cometeram crimes graves, como assassinato e tráfico de drogas, e cumprem medida socioeducativa em uma unidade especial da Fundação Casa, na zona leste de São Paulo.

    Com a intenção de que elas aumentem cada vez mais o vínculo com suas crias e despertem sentimentos de esperança para uma nova vida ao lado dos filhos, a organização social e cultural Projeto Guri criou, com base em uma experiência britânica, a "Oficina de Musicalização".

    "Tornar-se mãe é um momento muito difícil para várias delas, que têm famílias ausentes, estão assustadas com as transformações do corpo e são abandonadas pelos namorados. O apoio lúdico dá ânimo. A música causa um efeito imediato de tranquilizar mãe e bebê", diz a psicóloga da unidade, Ricarda Maria de Jesus.

    Há um mês, essas aulas ganharam um palco colorido, com a inauguração de uma brinquedoteca –com apetrechos doados por empresas privadas.

    Segundo o diretor Ezeiton Rodrigues de Santana, "os bebês não têm contato com o mundo exterior, pois ficam o tempo todo com a mãe, e ter a brinquedoteca, ter a atividade de música é uma maneira de amenizar a ausência".

    Responsabilidade Grazi, 17, (os nomes das internas são fictícios) saiu animada de sua primeira aula musical. Grávida de oito meses, ela conta que ainda está aprendendo como irá lidar com o filho prestes a chegar.

    "Estou com medo de tudo ainda. Nem pegar bebê eu sei. Quero aprender bem as músicas para cantar para meu filho, para acalmá-lo, para dar carinho para ele. Quero outro exemplo para ele que não a vida que eu tinha. Quero ter mais responsabilidade", diz.

    Mãe de um menino de cinco anos, Aline, há um ano cumprindo medida socioeducativa, é uma das maiores entusiastas do projeto. "Meu bebê se diverte muito com a musicalização. Juntos a gente aproveita muito. A música nos transporta para fora daqui. Aprendi várias e canto para ele sempre", conta.

    Para a coordenadora pedagógica do Guri, Lígia Antunes, causou surpresa a grande receptividade que o projeto teve entre as meninas.

    "A música provou que tem um poder transformador, independentemente do histórico de vida das meninas, do momento que elas estão passando aqui. Na hora da atividade parece que toda a adversidade se apaga e o que importa é o bem, a estimulação que farão para seus bebês."

    ATÉ O FIM

    Atualmente, 12 adolescentes internas participam da oficina, que deve durar até a metade do ano que vem.

    A unidade da Fundação Casa na Mooca, zona leste, é a única do Estado que possui atendimento especial para grávidas, a partir da 32ª semana de gestação, e mães recentes, que podem ficar com seus filhos até o final do prazo de internação.

    A capacidade máxima é de 16 garotas, que ficam em um pavilhão isolado de outras meninas. O local possui berços, é bem arejado e limpo.

    Além da atividade musical, as garotas participam de outras práticas culturais e artísticas e aulas de ensino formal e educação profissional.

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