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    tragédia no rio doce

    Com mar agitado, lama fica estancada na foz do rio no ES e peixes agonizam

    JULIANA COISSI
    ENVIADA ESPECIAL A LINHARES (ES)

    22/11/2015 16h23 - Atualizado às 22h26

    O mar agitado em Regência, distrito de Linhares, no Espírito Santo, tornou-se uma barreira natural e deixou estancada na foz do rio Doce neste domingo (22) a lama vinda do rompimento de uma barragem em Mariana (MG) –a 700 km de distância.

    Perto do limite entre rio e mar, peixes cobertos de barro agonizavam, boiando na água barrenta misturada à água limpa e salgada.

    A previsão é que a enxurrada de lama que afetou a qualidade da água de municípios ao longo do rio Doce, levando até à suspensão do abastecimento, se espalhe por 9 km da costa capixaba –afetando, por muitos anos, algas, moluscos, crustáceos e peixes.

    Fabio Braga/Folhapress
    Regencia-ES - 22.11.2015 - Praia de regencia com a agua do mar contaminada pela lama toxica. Foto: Fabio Braga/Folhapress
    Praia de Regencia, no Espírito Santo, com a água do mar contaminada pela lama toxica

    Embora a chegada dos rejeitos possa provocar impactos no litoral, a permanência deles concentrados por muito tempo no rio Doce, sem margem de escoamento pelo oceano, é vista com preocupação ainda maior pelas autoridades locais, que temem pela degradação acentuada.

    O abastecimento de água na cidade capixaba de Colatina, que tem mais de 120 mil habitantes, continuava afetado devido ao avanço da lama.

    A Defesa Civil do Espírito Santo prevê que só será possível começar a tratar a água do rio Doce em mais dois dias -com um produto coagulante que decanta a água da lama. A volta do abastecimento demoraria até sexta-feira.

    Oito pessoas morreram, 11 estão desaparecidas e ainda há quatro corpos que aguardam identificação depois do rompimento da barragem.

    CONTENÇÃO

    O material com rejeitos de minério chegou ao mar na tarde de sábado. Boias de contenção foram instaladas, por determinação judicial, pela Samarco, mineradora controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, responsável pela barragem rompida em Minas no dia 5. Mas não impediram a passagem da lama mais fina.

    As boias foram instaladas por pescadores contratados pela Samarco ao longo de 9 km da foz do Doce, encostadas na área de alagação, uma vegetação semelhante ao mangue nas margens do rio.

    Clique e veja o infográfico especial "Rastro da lama"
    Clique e veja o infográfico "Rastro da lama"

    O objetivo é evitar a passagem da lama para regiões mais sensíveis –e não especificamente ao mar. A Samarco afirma que a eficiência das barreiras nas áreas protegidas chegou a ser "de até 80%".

    Para evitar a concentração dos rejeitos na foz do rio Doce, escavadeiras tentaram abrir duas valas no banco de areia que separa rio e mar para liberar a lama, mas a operação na noite de sábado e manhã de domingo fracassou.

    "Enquanto estiver este vento sul, empurrando o mar contra o rio, as ondas ficam altas, chegando a dois metros e meio de altura. Então a pressão do mar é grande e não tem jeito de a lama escoar", disse Helio Alcântara, mestre da embarcação em que a reportagem percorreu a área.

    Uma linha bem nítida marca a divisão da água doce barrenta com a salgada, ainda limpa. Boiam na união destas águas restos de vegetação e peixes quase mortos.

    Pescador há 28 anos, Arnoilton Pereira, 53, estica as mãos para segurar um dos peixes que agonizam. Ele se espanta ao ver que se trata de um bagre-mandi.

    Segundo ele, essa espécie dificilmente pode ser vista na foz –provavelmente eles nadaram rio abaixo fugindo da lama, mas acabaram encurralados perto do mar.

    Colaborou THIAGO AMÂNCIO

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