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    tragédia no rio doce

    Em MG, vizinhos de barragem em risco resistem a deixar suas casas

    MICHELLE BORGES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MARIANA (MG)

    24/11/2015 02h00

    Um local tranquilo onde viviam cerca de 20 famílias se tornou uma bomba-relógio no último dia 5, quando uma barragem da Samarco se rompeu, em Mariana (MG). Próximo ao local da tragédia, o vilarejo de Camargos viu a maioria dos moradores e sitiantes partir desde então, mas seis famílias continuam no local.

    A estrada que liga Camargos a Bento Rodrigues, o povoado mais afetado, foi tomada pela lama. A enxurrada chegou a atingir duas casas do vilarejo –as outras ficam em pontos mais altos, e é ali onde ainda há moradores.

    A mineradora, controlada pela Vale e pela BHP, admitiu na semana passada que as barragens de Germano e Santarém, próximas à do Fundão, que se rompeu, apresentam baixo nível de segurança. De acordo com a empresa, obras emergenciais estão sendo feitas nas duas barragens.

    José Valdomiro Melo, 67, foi um dos primeiros a abandonar a casa no dia do incidente, mas volta ao local todos os dias para cuidar dos animais. "Venho aqui muito rápido, apenas para tratar dos meus cachorros. Mas minhas coisas estão todas embaladas e aos poucos vou levando meus objetos", conta ele, que foi direto para o abrigo improvisado pela mineradora, por iniciativa própria.

    Valdomiro ainda aguarda uma confirmação da Samarco de que as barragens remanescentes podem se romper para pegar seus pertences.

    Infográfico: Dano ambiental

    O caseiro de sítio Edilson da Silva, que está no subdistrito há três meses, continua em Camargos com a mulher e o filho de dois meses. Ele teme perder o emprego.

    Se a barragem se romper, eles serão os primeiros a ser atingidos. "Medo a gente tem, mas precisamos trabalhar. Confesso que a coragem vai acabando", afirma.

    Segundo ele, desde o rompimento não foi dada "nenhuma atenção" aos moradores. "A Defesa Civil e a Samarco não estiveram no local após a confirmação desse possível rompimento. A informação que nós temos é apenas das reportagens que acompanhamos", conta ele.

    Sua mulher, Cleidianara Alves da Silva, diz que vive sempre alerta, mas não quer deixar o marido sozinho. "A dificuldade em encontrar emprego nos faz continuar aqui, mas já não estamos aguentando mais viver sob tanta tensão." Eles pretendem conversar com o patrão e pedir para ao menos dormir em outro lugar. "É muito sofrimento", afirma Cleidianara.

    Depois do incidente, a Samarco instalou um sistema de alarme na localidade para alertar os moradores em caso de novo colapso. Uma caminhonete fica estacionada no ponto mais alto do lugarejo com um sistema que aciona o aviso sonoro.

    A empresa diz, em nota, que no dia 9 os moradores de Camargos foram orientados sobre as medidas a serem tomadas em casos de acidente.

    "Estamos confiantes no alerta da empresa, caso a barragem se rompa. Já deixo os documentos e roupas dentro do carro, caso tenha que sair de repente", afirma Edilson.

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