Tem para mais de quatro anos que João não aparece pelos lados de Pombos. Difícil chegar na cidade a 65 km de Recife não é. Nos últimos tempos, porém, o problema tem sido dinheiro para sair de São Paulo com a família e passar um tempo por lá.

Depois de ter experimentado por quase uma década o gosto de poder se programar para ver a terra natal uma vez por ano, agora só mesmo se fiando na sorte.

Na sorte e em uma série de "números de família" para arranjar "algum" na Mega-Sena –que nesta quarta-feira (25) vai pagar R$ 200 milhões. É o maior valor do ano e da história dos concursos regulares, excluindo os da Mega-Sena da Virada.

João Valdecir dos Santos, 49, garçom há 31, joga sempre os mesmos números, "os de família" em todos os tipos de loteria. São eles: a placa da Kombi 1964 com a qual, nas horas vagas, recolhe material reciclável em prédios de Santa Cecília, e os aniversários dos três filhos.

Em 30 anos, já deu quase certo. Acertou a quadra quatro vezes. O valor máximo que ganhou: R$ 600. Quanto gastou para isso é um cálculo bem menos interessante.

Melhor pensar que são R$ 200 milhões e que se agora for a vez de João, "Pombos pode esperar", que ele não é homem de voltar de qualquer jeito. "Sai de lá num 'pau véio' danado, em 1984. Agora, se eu ganhar aqui, alugo um helicóptero no Recife e chego com estilo", diz o garçom, que deixa o pensamento voar na fila da lotérica.

"Aniversário dos filhos, de casamento, placa de carro, tem de tudo", diz o proprietário José Manuel Pinho, 65, há 44 atrás do balcão de apostas. "Já vi gente que faz o mesmo jogo a vida inteira."

A chance de acertar as seis dezenas do sorteio é mesmo de 1 em 50 milhões, confirma o estatístico Marcelo Leme de Arruda.

Mas isso é para quem apostar seis dezenas. Se a aposta subir para sete números, a chance aumenta consideravelmente: 1 em 7 milhões. Ou, mais exatamente: 1 em 7.151.980.
Diante disso, melhor mesmo é continuar apostando da forma que bem entende.

"Não há número com maior probabilidade que outro de ser sorteado, nem sequência impossível de sair", diz Arruda –apostas com sequências como 1,2,3,4,5 e 6 também são comuns. João também tem a dele.

Se dessa vez os números sorteados pela Caixa Econômica Federal não forem sua sequência, o aniversário de algum dos três filhos, nem a placa da Kombi 64, mesmo assim João vai voltar para a fila da lotérica. Coisa muito maior "já tá por aí".

A estimativa do prêmio da Mega-Sena da Virada, edição especial no último dia do ano, deve superar a desta quarta em R$ 80 milhões e chegar a R$ 280 milhões, segundo a Caixa Econômica Federal.

Os pombenses não perdem por esperar.

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