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    tragédia no rio doce

    Vale cria fundo para recuperar rio Doce, mas não diz quanto investirá

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    27/11/2015 14h22

    A Vale anunciou nesta sexta-feira (27) a criação de um fundo, em parceria com a BHP, para a recuperação do rio Doce, atingido pela lama que vazou após o rompimento de barragem de rejeitos da Samarco, em Mariana (MG). A companhia não informou, porém, quanto investirá no projeto.

    Em entrevista coletiva com 1h40 de duração nesta manhã, a companhia se defendeu de críticas sobre sua atuação após o acidente, ocorrido no dia 5 de novembro. Vale e BHP são controladoras da Samarco.

    "Tenho certeza que estávamos totalmente comprometidos em ajudar naquilo que foi possível", disse o presidente da Vale, Murilo Ferreira, citando o apoio técnico, logístico e o fornecimento de equipamentos para remediar os impactos da tragédia. "Fazer a ajuda humanitária, naquele momento, era a nossa principal preocupação", completou.

    Segundo ele, um "buraco de governança" impediu a Vale de se manifestar de forma mais aberta como acionista da Samarco, uma vez que a legislação antitruste criaria barreiras para a atuação dos sócios na controlada –as três empresas são concorrentes no mercado.

    Segundo Ferreira, o fundo anunciado nesta sexta é "voluntário" e foi motivado pela forte presença da Vale na região. A ideia é atrair outras empresas com atividades na região, além de organizações não governamentais, para propor um processo de recuperação de longo prazo.

    É um fundo diferente daquele criado pela Samarco por determinação do Ministério Público. A outra sócia desta empresa, a BHP, também participará do novo fundo.

    A companhia alegou que o volume de dinheiro necessário ainda será calculado. "O maior desafio hoje não são os recursos, é a capacidade de realização", disse a diretora executiva de recursos humanos, saúde e segurança, sustentabilidade e energia da empresa, Vânia Somavilla.

    A empresa voltou a negar a existência de elementos tóxicos nos rejeitos que vazaram da barragem da Samarco. Segundo eles, a lama é formada por areia e argila, além de amina, que é uma matéria orgânica usada na separação do minério.

    Citando relatórios do governo de Minas Gerais, Vânia disse que a presença de outros elementos em análises da água feitas após o acidente pode ter sido provocada pelo efeito da passagem da lama em áreas já contaminadas.

    "EQUÍVOCO"

    O consultor jurídico da empresa, Clóvis Torres, classificou como um "equívoco" as declarações do juiz Frederico Esteves Duarte Gonçalves, de Mariana, sobre o sumiço de R$ 292 milhões da conta da Samarco.

    Ele defendeu que, por ser uma empresa exportadora, a Samarco mantém seus recursos fora do Brasil e precisaria de tempo para trazer ao país montantes necessários para cobrir dinheiro que foi bloqueado pela Justiça. A companhia se compromete a ter o dinheiro na semana que vem.

    A empresa repetiu que o retorno das operações, suspensas desde o acidente, da Samarco dependerá da opinião pública e da capacidade da empresa comprovar que pode voltar a extrair minério com segurança.

    De acordo com o diretor financeiro da Vale, Luciano Siani, a empresa tem conversado com credores internacionais para evitar o resgate antecipado da dívida no ano que vem, diante da previsão do descumprimento de compromissos assumidos junto aos credores (chamados de covenants).

    O risco de resgate levou a Standar & Poors a rebaixar a nota de crédito da Samarco esta semana. Siani disse esperar "que os bancos sejam pacientes neste momento".

    A companhia fez ainda uma apresentação sobre suas barragens, reforçando que realizou novas vistorias após a tragédia e que estão todas em boas condições. A Vale tem 168 barragens no Brasil, sendo 123 em Minas Gerais.

    A empresa diz que vem trabalhando para reduzir a necessidade das barragens de rejeitos em seus projetos, como o processamento a seco nas minas de minério de melhor qualidade e a pesquisa tecnológica para conversão dos rejeitos em pasta e o processamento de minérios mais pobres a seco.

    "Mas as alternativas ainda não são viáveis. O importante pe que, hoje, sem barragens, o Brasil não tem condições de produzir minérios no volume atual a preços competitivos", disse o gerente executivo de planejamento estratégico da companhia, Lúcio Cavalli.

    Ao final da entrevista, Murilo Ferreira se emocionou ao ser questionado sobre sua avaliação sobre a dimensão dos estragos provocados pela tragédia. "Para mim, pessoalmente, é extremamente doloroso fazer parte deste momento."

    Infográfico: Dano ambiental

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