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    Microcefalia está com novo padrão, dizem especialistas

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    28/11/2015 02h00

    Resultados de exames e avaliações clínicas nos bebês nascidos em meio ao surto de microcefalia no Nordeste apontam um padrão "totalmente novo" da doença, afirmam médicos que acompanham os casos.

    Segundo eles, os bebês apresentam alterações no desenvolvimento cerebral com características diferentes das registradas em outras causas comuns da microcefalia, o que reforça a suspeita de um novo agente causador. A suspeita é que esses casos sejam causados pelo zika vírus.

    O aumento inesperado de casos de bebês com a malformação fez o governo decretar situação de emergência nacional em saúde. Em pouco mais de três meses, o país contabiliza 739 casos suspeitos, valor cinco vezes maior que a média de 2014.

    A maior parte dos exames aponta sinais de calcificação mais fortes na região do córtex, a camada externa do cérebro, onde há as células nervosas, enquanto malformações por outras infecções, como citomegalovírus, apresentam essas marcas mais na região dos ventrículos.

    "A maior parte das crianças têm alterações muito extensas no cérebro. Elas têm atrofia, calcificações e aumento dos ventrículos, que são cavidades dentro do cérebro", diz o radiologista Adriano Hazin.

    Ele analisa cerca de oito tomografias por dia no Imip (Instituto de Medicina Fernando Figueira), no Recife.

    Segundo a neuropediatra Ana van der Linden, uma das primeiras a identificar o surto, alguns bebês também têm o cérebro mais liso, ou seja, com menos "curvas".

    "É um padrão totalmente novo. É difícil prever, mas, com alterações desse tipo o mais provável é que esses bebês tenham alterações motoras e cognitivas mais importantes", afirma.

    Ela ressalta, porém, que não há uma conclusão definitiva sobre a maior gravidade e não se pode generalizar.

    Infográfico: Entenda a microcefalia

    ZIKA VÍRUS

    A principal hipótese é que o surto esteja relacionado ao zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

    Os primeiros dados indicam que mulheres que relatam sintomas de zika no primeiro trimestre da gravidez apresentam bebês com sinais mais graves de microcefalia em relação àquelas com sintomas mais tardios.

    Para confirmar essa relação, secretarias de Saúde desenvolvem protocolos para acompanhar gestantes.

    Entre os bebês já nascidos, os impactos à saúde variam. Alguns apresentam uma espécie de "falta de harmonia" ao mexer mãos e pés e não localizam bem o rosto à frente, relata o neuropediatra Arthur de Vasconcelos Ribeiro, que atua no Centro de Reabilitação do Rio Grande do Norte.

    A depender do caso, a criança terá dificuldade para falar, ouvir ou andar. Cerca de 90% dos casos estão ligado a alguma deficiência mental. Também já são observados casos de bebês com crises convulsivas.

    "Mas depende do grau da lesão que cada paciente teve", diz Vanessa van der Linden, neurologista da AACD –há cerca de dois meses, ela e a mãe, Ana, foram as primeiras a identificar o surto.

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