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    Mexicano 'super-herói dos pedestres' se assusta com motoristas de SP

    RODRIGO RUSSO
    DE SÃO PAULO

    29/11/2015 02h00

    É um pássaro? Um avião? Não? Nem seria possível: o céu não é o lugar certo para procurar por Peatónito, o super-herói mexicano criado em 2012 para defender os direitos dos pedestres.

    Mais fácil encontrá-lo nas ruas e calçadas de grandes cidades, cenário em que fiscaliza as regras de trânsito, pula sobre carros estacionados em locais irregulares e pinta faixas de travessia em ruas onde não havia estrutura para quem se desloca a pé.

    Sem revelar sua identidade, tal qual super-heróis de filmes e histórias em quadrinhos, esse mexicano passou por São Paulo na semana passada, quando participou de um seminário sobre mobilidade a pé promovido pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).

    A Folha acompanhou a primeira intervenção de Peatónito nas ruas paulistanas na quinta-feira (26). Os trajes desse herói urbano são um tanto quanto simplórios: calça escura e camiseta preta, acompanhadas por uma capa alvinegra -como as faixas de pedestres.

    Seu maior trunfo visual é a máscara que usa, à moda dos tradicionais personagens da luta livre mexicana que lhe inspiraram. "Essa nova máscara foi feita por meu irmão. No início, usava uma que comprei de outro lutador, não era tão personalizada", conta Peatónito —"peatón", em espanhol, significa pedestre.

    Quando sai às ruas da Cidade do México, o herói carrega importantes armas: um código de trânsito local e sprays de tinta para apontar as ilegalidades nas calçadas ou criar faixas de pedestres, seu superpoder predileto.

    Antes de chegar a São Paulo, ele já havia participado de congressos sobre mobilidade nos Estados Unidos, na Colômbia e na Áustria.

    Nenhuma das missões anteriores, contudo, foi suficiente para prepará-lo para a conduta agressiva de alguns motoristas paulistanos que abordou na conversão da rua dos Pinheiros para a rua Cunha Gago, na zona oeste. Em dez minutos, dois carros quase o atropelaram, prova da reflexão que dividira antes de ir às ruas: "O homem chegou à Lua, mas é impossível cruzar a rua".

    HUMOR

    Segundo Peatónito, os mexicanos têm mais senso de humor na hora em que são interpelados no trânsito: "Aqui os motoristas parecem mais estressados. Metade ficou nervosa, enquanto na minha cidade nem 10% reage mal às ações que faço", compara.

    Para sorte do mexicano, um herói brasileiro acompanhou sua tentativa de promover os direitos do pedestre em São Paulo: o Super-Ando, recém-criado por ativistas de mobilidade e interpretado por um jovem de 23 anos que também não se identifica.

    "O Peatónito e os movimentos do México, como a liga de pedestres, são uma inspiração essencial. Houve muitas conquistas por lá, que ainda precisamos alcançar no país", afirma Super-Ando.

    O herói nacional se deslocava com mais confiança entre os veículos e oferecia lições essenciais da mobilidade em português: "prioridade ao pedestre", "cidade mais humana" e "na hora da conversão, respeite quem está a pé".

    Em São Paulo e na Cidade do México, o maior número de vítima de acidentes de trânsito estava a pé. "A revolução é pedestre e pacífica, mas precisa ser vencida esquina a esquina, rua a rua", avalia o pioneiro mexicano. A missão mais difícil, no entanto, está nas mãos —e pés— do novato paulistano.

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