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    Intervenção precoce ajuda tratamento em casos de microcefalia

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    29/11/2015 02h00

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Francis com a filha Maria Carolina, 14, que nasceu com a doença
    Francis com a filha Maria Carolina, 14, que nasceu com a doença

    Diagnósticos tardios e a carência de um sistema que promova intervenções terapêuticas precoces em bebês com microcefalia no Brasil acabam por afetar a qualidade de vida futura dos acometidos com a enfermidade, que varre o Nordeste do país.

    Experiências internacionais mostram que, com estímulos desde entre 0 e 3 anos e ações integradas de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, há possibilidade de promover mais autonomia e desenvolvimento para os acometidos.

    Neuropediatra do hospital e maternidade Santa Joana, Catherine Marx explica que não há apenas uma causa para a origem da microcefalia.

    A enfermidade pode ter origem genética, na prematuridade extrema, na má-formação cerebral (que pode surgir com o vírus zika), na falta de oxigenação adequada ao nascer, no uso de álcool ou drogas pela mãe e ainda em infecções contraídas pela mãe e passadas ao filho no útero.

    Bryan Mattson, especialista americano em intervenção precoce, afirma que quando a atenção básica começa logo após o parto, é possível que o indivíduo consiga se reabilitar e ter uma vida normal, com algumas limitações.

    "Quanto mais se espera, mais é possível se instalarem dificuldades motoras e de aprendizado, entre outras."

    Nos EUA, uma lei federal garante que bebês com anormalidades no desenvolvimento, mesmo sem diagnóstico definido, tenham acesso a serviço público de intervenção precoce. Uma equipe multidisciplinar começa a agir assim que é feito um encaminhamento médico.

    A nova lei brasileira de inclusão, que entra em vigor em 2016, prevê que os serviços públicos de atendimento à pessoa com deficiência ofereçam tratamento multidisciplinar imediato a bebês acometidos por anormalidades.

    Hoje, esse tipo de tratamento é feito por órgãos como a AACD e a Apae, que têm vagas limitadas e fila de espera, ou é bancado pela família, em clínicas particulares.

    Karime Xavier/Folhapress
    Fabiana (à dir.) descobriu por acaso que o filho Lorenzo (1 ano e 8 meses) tinha microcefalia
    Fabiana (à dir.) descobriu por acaso que o filho Lorenzo (1 ano e 8 meses) tinha microcefalia

    ACASO

    A dona de casa Fabiana Andrade, 34, descobriu por acaso que o filho Lorenzo, de um ano e oito meses, tinha microcefalia. "Como ele também nasceu com surdez, durante uma consulta de rotina uma neurologista me fez o alerta que ele tinha sinais de microcefalia." Ela ainda não conseguiu suporte para que o filho se reabilite.

    A microcefalia na adolescente Maria Carolina, 14, foi descoberta logo ao nascer. A partir de então, ela passou por vários procedimentos de reabilitação. Hoje, ela tem dificuldades cognitivas e de aprendizado, mas desenvolveu-se sem outras limitações.

    A origem da má-formação, segundo a mãe da garota, Francis Marisol Ximenes, 39, "nunca foi descoberta". Ela avalia que, diante do surto da doença, pouca informação prática e apoio efetivo estão chegando às famílias.

    "Cada criança é diferente e terá uma realidade diferente. É preciso descobrir como ela pode evoluir."

    De acordo com a neuropediatra, a expectativa de vida e capacidade de desenvolvimento de indivíduos com microcefalia dependem da etiologia (origem) da doença.

    Infográfico: Entenda a microcefalia

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