• Cotidiano

    Friday, 03-May-2024 15:22:50 -03

    tragédia no rio doce

    Para promotor, Samarco é desleal e joga funcionários contra vítimas

    JOSÉ MARQUES
    ENVIADO ESPECIAL A MARIANA (MG)

    30/11/2015 16h10

    O Ministério Público de Minas Gerais deu um prazo de 24 horas para a mineradora Samarco depositar os R$ 292 milhões que deve à Justiça. Caso contrário, pedirá que a Vale e a BHP Billiton, controladoras da empresa, paguem a conta.

    A mineradora, presidida por Ricardo Vescovi e responsável pela barragem que se rompeu em Mariana (MG), teve as contas bloqueadas após ficar devendo o montante, que serviria como garantia de que ela cumpriria responsabilidades legais com as famílias atingidas pelo fluxo de rejeitos de mineração no último dia 5.

    O dinheiro não foi depositado até esta segunda (30) e, na última sexta (27), a empresa emitiu comunicado para funcionários e fornecedores anunciando a suspensão dos pagamentos por conta do bloqueio.

    A medida gerou críticas do promotor da comarca de Mariana, Guilherme Meneghin, que tachou a empresa presidida por Ricardo Vescovi de "desleal" e de "não corresponder com a verdade" em suas ações.

    "Desde o dia 10, a Samarco foi intimada. Se ela tivesse cumprido a decisão, não tinha mais ordem de bloqueio, não paralisava suas contas e acabava esse problema", disse o promotor, na tarde desta segunda (30), no fórum da cidade.

    "Ela fez isso simplesmente para jogar os empregados contra a população atingida, que é uma forma desleal de tratar essa questão, que é muito importante", afirmou.

    Montagem sobre foto de Avener Prado/Folhapress/Avener Prado/Folhapress
    Clique na imagem e veja o especial "O caminho da lama"
    Clique na imagem e veja o especial "O caminho da lama"

    Para Meneghin, a mineradora tem atuado em contradição com a imagem de responsabilidade que tem tentado passar à imprensa e pelas redes sociais.

    O promotor disse que deu um "ultimato" para que a Samarco deposite o dinheiro restante ou entrará com uma ação de desconsideração da pessoa jurídica, que, caso a Justiça acate, obrigaria os sócios a bancarem a conta da empresa controlada.

    O bloqueio também foi usado pela mineradora para justificar o atraso no pagamento de outros R$ 292 milhões da primeira parcela de um fundo destinado a reparos ambientais causados pelo rompimento da barragem.

    'BOTEQUIM'

    Ao tomar conhecimento de que a Samarco havia descumprido a decisão, o juiz Frederico Gonçalves, que determinou o bloqueio, disse que a empresa "sumiu" com R$ 292 milhões "como se fosse o botequim da esquina".

    "Em outras palavras e em português claro: a requerida sumiu com o dinheiro, embora, em 31 de dezembro de 2014, tivesse em seu caixa mais de 2 bilhões de reais", disse o juiz em liminar publicada no dia 25. Ele continuou, escrevendo que a Samarco "vem adotando estratégia jurídica indigna e deliberada de, como se fosse o botequim da esquina, não cumprir o mandamento judicial".

    Ele havia pedido o bloqueio do dinheiro restante sob custódia do Banco Central, em forma de títulos de crédito, por exemplo, até completar os R$ 300 milhões iniciais.

    A reportagem procurou a Samarco e a Vale para comentarem a declaração do promotor, mas não obteve resposta.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024