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    tragédia no rio doce

    Recuperação do rio Doce deve focar nascentes prioritárias, diz ONG

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    30/11/2015 17h01

    Diante do tamanho da tragédia no rio Doce, que ainda está em curso, não é possível afirmar quanto da bacia hidrográfica entupida pela lama poderá ser recuperada.

    O que não significa, segundo especialistas, que se deva desistir de tentar.

    O plano da ONG WWF é oferecer uma ferramenta usada em outras partes do mundo, e também no Pantanal, que ajuda a criar "bombas de água limpa" para tentar desentupir os rios da região.

    Para isso, nesta terça-feira (1) será lançada uma plataforma eletrônica com mapas hidrográficos detalhados da área afetada pelo tsunami de lama. A plataforma gratuita poderá ser consultada e preenchida com informações de diferentes entidades que acompanham a qualidade da água na região do rio Doce (universidades, ONGs, indústrias, prefeituras etc).

    Montagem sobre foto de Avener Prado/Folhapress/Avener Prado/Folhapress
    Clique na imagem e veja o especial "O caminho da lama"
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    Entre os dados disponíveis deverá estar a contribuição da própria WWF, que identificou quais são as nascentes prioritárias na bacia do Doce. Ou seja, aqueles pequenos riachos que mais levam água para o rio principal.

    Se essas nascentes estiverem em boas condições, elas tendem a funcionar como bombas de água limpa, que ao circular pelo ecossistema deverá ajudar na oxigenação do mundo aquático.

    "Depois de mapeadas e estudas, as nascentes preservadas precisam ser cercadas, para evitar que o gado pisoteie o local. As que estiverem degradadas terão que ser recuperadas", diz Mariana Ferreira, coordenadora do Programa de Ciências da WWF.

    O que não significa, segundo ela, que outras ações sejam necessárias. Como, até, a retirada da lama de locais onde ela se acumulou muito. Ou o replantio de espécies vegetais ao longo do rio, onde a devastação tenha sido bastante exagerada.

    O levantamento feito pelo grupo coordenado pela coordenadora da WWF mostra que não se trata de uma tarefa rápida e muito menos barata. Muito pelo contrário. É impossível, hoje, afirmar que a bacia do Doce será totalmente recuperada.

    Os dados mostram que 31% da área da bacia atingida, quase 26 mil quilômetros quadrados, são importantes para irrigar os rios principais da região, como o Doce.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O levantamento baseado em imagens de satélite constata que muito antes da enxurrada de lama varrer mais de 500 km de rios até o Atlântico existia uma agonia florestal em toda a área.

    Dos 83,5 mil quilômetros que formam a bacia do rio doce, 11,5% são cobertos por vegetação. Grande parte deles, 10,5% por mata atlântica. As áreas restantes são de cerrado. Dois tipos de ecossistemas que agonizam no país.

    Existem seis municípios mineiros que têm 100% de seus territórios considerados prioritários para a recarga hídrica do Doce.

    Biólogos e botânicos consultados pela reportagem dizem que a ideia da WWF faz sentido.

    Mas como a recuperação de nascentes demora muito para ocorrer, se as primeiras intervenções não forem feitas em regiões muito bem escolhidas, o plano de recuperar o rio Doce não terá efeito.

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