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    Análise

    Mudar área sensível, como a educação, gera desconfiança

    MAURO PAULINO
    DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
    ALESSANDRO JANONI
    DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

    04/12/2015 02h00

    A taxa de reprovação a Geraldo Alckmin está entre as piores já obtidas por um governador paulista. Só é superada pelas alcançadas por Mário Covas entre o fim de 1999 e junho de 2000. Os recordes na ocasião tinham correlação com reflexos das greves no funcionalismo, principalmente na área da educação.

    E agora, diante justamente da proposta polêmica de reestruturação do setor, uma nova marca negativa se impõe à gestão tucana. A maioria tomou conhecimento da ideia e se posiciona contra. E isto tanto no estrato dos que têm filhos na rede pública (65%) quanto no dos que não têm (59%). E a maior parte ainda se coloca a favor da ocupação dos colégios pelos estudantes como forma de protesto.

    Mudar política pública em área tão sensível, com alto potencial de impacto sobre a rotina das famílias, em fator fundamental para a inclusão social, gera não só desconfiança como frustração em parcela importante do eleitorado, especialmente nos segmentos carentes, onde o governador mais perdeu aprovação.

    Mesmo com a queda de dez pontos na popularidade no início do ano, muito em função da crise hídrica, a taxa dos que o aprovavam Alckmin em fevereiro era 14 pontos superior à dos que o reprovavam. Hoje, a reprovação supera a de aprovação em dois pontos, um empate técnico.

    Lalo de Almeida/Folhapress
    Governador tem em 2015, pior avaliação de sua carreira no cargo, desde 2001
    Governador tem em 2015 pior avaliação de sua carreira no cargo, desde 2001

    Apesar do índice dos que perceberam falta de água no domicílio ter caído, a taxa dos que a relatam com frequência superior a cinco dias mantém-se no patamar de 22%. Além disso, há a sensação de que falta informação -predomina a ideia de que o governo só divulga o que lhe interessa.

    As últimas tentativas de evocar sigilo sobre dados da Sabesp, assim como do Metrô e da Policia Militar, reforçam a falta de transparência associada ao governo tucano. A isso se soma a imagem negativa da polícia que, como mostrou o Datafolha recentemente, desperta mais medo do que confiança.

    A PM pode se transformar em símbolo da falta de debate e transparência. Aparece para a população como uma força empregada para anular o diálogo e, com isso, ajuda a minar a imagem da atual gestão. Não se deve esquecer que em junho de 2013, a partir de ações da PM paulista contra jovens manifestantes, agravou-se a crise de representação e Alckmin também sofreu forte desgaste.

    A recuperação do prestígio passa por admitir a necessidade de canais adequados de consulta, especialmente junto às camadas que vêm ascendendo pela educação. Com a dinâmica interativa dos novos meios, a exigência por transparência e participação será cada vez maior, tendência fundamental a ser acompanhada por quem não quer perder o carimbo de pré-candidato a Presidente da República.

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