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    tragédia no rio doce

    Ilegais, garimpeiros afetados pela lama querem auxílio da Samarco

    JOSÉ MARQUES
    ENVIADO ESPECIAL A MARIANA (MG)

    04/12/2015 02h00 - Atualizado às 10h58

    Alexandre Rezende/Folhapress
    Jesu Moreira, garimpeiro que atuava em Mariana (MG) e que afirma ter perdido uma draga de R$ 30 mil com a lama
    Jesu Moreira, garimpeiro que atuava em Mariana (MG) e que afirma ter perdido uma draga de R$ 30 mil com a lama

    Atuando na ilegalidade há mais de 30 anos, o garimpeiro Carlos Alberto Domingos, 63, não pensou duas vezes. Cobrou ajuda do prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), depois de ver seu equipamento e sua "mina de ouro" engolidos pela lama de rejeitos.

    Assim como ele, aproximadamente 40 garimpeiros que extraíam ouro do rio Gualaxo do Norte em Monsenhor Horta, distrito de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), querem reparação da Samarco, de propriedade da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton, após terem equipamentos e áreas de extração destruídos pelo barro.

    "Eles dizem que fazemos estragos, mas estrago muito maior é o que a Samarco fez", critica Domingos, que tem seis filhos -a mulher está grávida do sétimo.

    Seus dois filhos mais velhos também perderam os equipamentos após o rompimento de uma barragem da Samarco no último dia 5.

    Na segunda (30), o prefeito de Mariana se reuniu com representantes dos garimpos para ouvir as demandas e repassá-las à mineradora.

    Em seguida, mandou cestas básicas e doações enviadas às vítimas da tragédia.

    Para extrair pequenas quantidades de ouro, os garimpeiros montam balsas nos rios e, com bombas de sucção, sugam a terra do fundo. Depois, para separar o material valioso de areia e argila, usam mercúrio, que é tóxico.

    A extração ilegal pode render prisão de seis meses a um ano, além de multa.

    "Só sabemos viver disso", diz Jesu Moreira, 50, que chefia equipes de extração irregular no distrito. Com a lama, ele afirma ter perdido uma draga de R$ 30 mil, mas não pode ir à Justiça porque a atividade não é legalizada.

    Por mês, eles tiram cerca de R$ 2.000 com a venda de gramas do metal.

    Na última semana, os garimpeiros foram à sede da Samarco para pedir que sejam incluídos nos programas de ajuda às vítimas da tragédia. Também afirmaram que buscariam o Ministério Público do Trabalho.

    Procurada, a Samarco informou que um estudo está em andamento para fornecer auxílio a produtores rurais, pescadores e garimpeiros, que não tiveram suas casas atingidas, mas foram isolados. A proposta, segundo a empresa, será discutida em conjunto com órgãos de proteção de direitos humanos.

    Já a Promotoria informou, em nota, que, como "o trabalho ilegal não é protegido por lei, não há possibilidade de o MPT buscar qualquer reparação para essas pessoas".

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