• Cotidiano

    Wednesday, 01-May-2024 20:31:45 -03

    tragédia no rio doce

    Estudo da Samarco não previa danos no rio Doce e em distritos de MG

    ESTÊVÃO BERTONI
    DE SÃO PAULO
    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    15/12/2015 02h00 - Atualizado às 08h46

    Um estudo sobre as consequências de uma eventual ruptura da barragem do Fundão, em Minas, encomendado pela Samarco, não previa a chegada da lama na cidade de Barra Longa nem os danos ao rio Doce e ao vilarejo de Paracatu de Baixo, em Mariana, caso houvesse um desastre como o de 5 de novembro.

    A análise, elaborada pela Pimenta de Ávila Consultoria e entregue pela Samarco ao governo de Minas em 2014, considerou apenas os efeitos no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e previu que o local seria destruído em menos de meia hora.

    No pior dos cenários, 84 construções e 336 pessoas seriam atingidas. A realidade, porém, foi mais devastadora: cerca de 600 pessoas foram desalojadas e 16 morreram.

    A parte baixa de Paracatu, onde havia casas e uma escola, foi destruída. No município de Barra Longa, imóveis ficaram com lama até o teto.

    Embora a empresa, dirigida por Ricardo Vescovi e que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, soubesse que o tempo de ação era curto, seu plano de emergência entregue aos governos de Minas e federal não traçou uma estratégia para avisar e remover os moradores, o que contraria a legislação federal, como a Folha revelou em 21 de novembro.

    O estudo apresentou três cenários, considerando os efeitos da chuva. Nos dois primeiros, a barragem se rompe após transbordar. No terceiro, há somente vazamento, sem a estrutura ruir.

    No pior dos cenários, a onda, com velocidade média de 7 m/s, chegaria a Bento Rodrigues em oito minutos. No melhor, seriam 21 minutos.

    Toda a comunidade seria tomada pelos rejeitos num intervalo de dez a 26 minutos.

    Projetista da barragem de Fundão até 2012 e autor do estudo, o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila disse que sua empresa não tem responsabilidade sobre as ações de emergência após o acidente.

    "Ele [estudo de ruptura] dá subsídios ao plano de emergência. As respostas que ele dá são a linha de evacuação, a profundidade da lâmina [de lama] e o tempo de chegada", disse, após evento no Clube de Engenharia no Rio, no dia 10.

    Os planos de emergência entregues pela Samarco também trazem a assinatura do escritório de Ávila.

    Em sua palestra no evento, Ávila negou ligação com o incidente. "Fui projetista de Fundão até 2012, depois perdi o contrato em uma concorrência. Quando saí, a barragem estava com 45 metros. Quando teve o acidente, estava em 90 metros. Portanto, não é minha estrutura."

    Ele não disse por que o estudo analisou apenas o impacto em Bento.

    Segundo o engenheiro e geofísico Celso Magalhães, não é correto prever apenas a chuva como causa. "Você tem pluviometria, tem a geologia, tem os sismos."

    Já o geólogo Jehovah Nogueira Jr. aponta que os órgãos de fiscalização, embora exijam esse tipo de análise, nem sempre discutem o que foi informado.

    "O órgão quer que alguém seja responsável. A mineradora entregando e assinando embaixo, ele está tranquilo."

    OUTRO LADO

    A mineradora Samarco, da Vale e da BHP Billiton, não respondeu por que a análise de ruptura entregue aos órgãos de fiscalização ambiental não previu a chegada e o impacto da lama da barragem de Fundão no rio Doce e em comunidades como Paracatu de Baixo e Barra Longa, caso a estrutura se rompesse.

    Em nota, a empresa presidida por Ricardo Vescovi afirmou que "logo após o acidente, juntamente com Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e outras autoridades, a Samarco executou todas as ações previstas em seu plano de ação emergencial de barragens, validado pelos órgãos competentes".

    A Folha também questionou a empresa sobre a ausência de estratégia emergencial para alertar sobre o risco e remover a população de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, mas também não obteve resposta.

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024