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    tragédia no rio doce

    Passagem da lama muda a história de vilarejo Bento Rodrigues; veja imagens

    JOSÉ MARQUES
    AVENER PRADO
    ENVIADOS ESPECIAIS A MARIANA (MG)

    16/12/2015 02h00

    O site da Prefeitura de Mariana (MG) ainda diz: no vilarejo histórico de Bento Rodrigues, onde moram 600 pessoas, o visitante pode "curtir um bom papo", fazer passeios a cavalo e, no final de julho, acompanhar a festa do padroeiro São Bento.

    A pesca é outro atrativo do povoado, que seduz moradores da região em busca de lambaris, tilápias e traíras.

    Não mais. No dia 5 de novembro, o subdistrito foi invadido por 40 bilhões de litros de rejeitos da mineradora Samarco, que seguiram caminho pelo rio Doce até o litoral do Espírito Santo, a mais de 600 km de distância.

    A enxurrada acabou com casas, móveis, veículos, plantações e deixou ao menos 17 mortos -o 17º corpo foi achado nesta terça (15) e pode ser de uma das três pessoas ainda desaparecidas.

    Bento ficou debaixo da lama e, de acordo com governo, prefeitura e equipes de resgate, não é possível prever quando será possível voltar a viver no local. Da capela de São Bento, erguida em 1718, sobrou apenas a estrutura.

    Boa parte dos moradores trabalhava em lavouras e diz sentir falta da rotina tranquila e da vida em comunidade.

    "Bento era um lugar bom para morar para quem é do mato, como eu. Vai ser difícil achar alguma coisa igual", lamenta o aposentado José Caetano, 79, que fugiu do povoado com a roupa do corpo.

    Ele vivia em um terreno com cinco casas, todas encobertas pela lama. Depois da tragédia, não voltou ao vilarejo, mas tem assistido ao cenário de devastação pela TV.

    Já o lavrador Ailton Barbosa, 63, afirma que passou 30 anos construindo a casa para que, finalmente, ela ficasse como ele queria. "Mas aí veio a lama e, de uma hora para outra, destruiu tudo."

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    A Samarco, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP, e a Promotoria ainda discutem como realocar todas as vítimas. Os antigos moradores querem que uma nova vila seja construída.

    Inicialmente, eles foram abrigados em hotéis da cidade e, agora, estão sendo transferidos para casas alugadas, de forma provisória.

    "O que mais nos dá medo é de que nos separem. Como Bento era pequeno, éramos muito unidos. E, agora, depois de tudo isso, queremos continuar de onde paramos", afirma a dona de casa Gisele dos Santos Oliveira, 26.

    Recém-casada e sem filhos, sua casa tinha acabado de ficar pronta, com três quartos, já prevendo a chegada dos bebês. Mas, mesmo no alto do vilarejo, o imóvel foi parcialmente destruído.

    No dia do rompimento, a única escola municipal de Bento foi evacuada pelos professores. A lama chegou a atingir a altura da lousa.

    Em Mariana, os alunos já aprendem sobre a tragédia e fazem maquetes da região atingida. Nas salas de aula está parte das crianças e adolescentes que perderam tudo e tentam se adaptar à nova rotina, com menos espaço.

    A Samarco diz que os 288 jovens afetados pela lama voltaram a estudar.

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