• Cotidiano

    Saturday, 18-May-2024 00:23:45 -03

    Rio de Janeiro

    Troca de tiros deixa um morto e seis feridos na favela da Rocinha, no Rio

    BRUNA FANTTI
    DO RIO

    25/12/2015 11h45 - Atualizado às 17h33

    A manhã de natal desta sexta-feira (25) na favela da Rocinha, zona sul do Rio, foi marcada por uma troca de tiros por volta das 6h que resultou na morte de um morador. José Auri Carlos, 52, foi baleado e não resistiu. Outros quatro feridos foram socorridos no hospital Miguel Couto, no Leblon.

    Um deles, Johnny Américo Raimundo, 27, foi atingido por um tiro que atravessou seu braço direito e, depois, acertou o pulmão. Ele passou por cirurgia nesta manhã. Os outros três feridos receberam alta. Segundo a PM, dois policiais também sofreram escoriações durante esta ocorrência.

    A Folha conversou com um morador que presenciou a ação policial e pediu para não ser identificado. Ele afirmou que a confusão começou após um policial da UPP desligar o som da festa de natal organizada em uma quadra de esportes, situada logo na entrada da comunidade.

    "Ele desligou o som e gritou 'vão dormir, acabou, já está amanhecendo'. Estavam todos na boa, e ele foi agressivo. Vi quando um grupo o cercou. O policial então começou a gritar e começou um bate-boca, com empurrões", disse o morador.

    Segundo a testemunha ouvida pela Folha, com o início da confusão, pedras foram arremessadas na direção dos policiais que se aproximaram para auxiliar o colega.

    "Todo mundo começou a correr para sair da quadra. Eu tentei escapar indo para dentro da favela, mas caí no chão e pisaram em mim. Foi quando ouvi os tiros", disse o morador, que sofreu escoriações e foi levado para o hospital. "Não sei de onde saíram os tiros", acrescentou.

    A quadra escolhida como local da festa dos moradores fica bem na entrada da Rocinha, na parte baixa da favela e ao lado da pista da Autoestrada Lagoa-Barra, via de conexão entre a zona sul carioca e a Barra da Tijuca, na zona oeste.

    Quando o tumulto começou, parte dos moradores correu para dentro da favela. Outros seguiram pela passarela que cruza a Lagoa-Barra.

    Os quatro feridos pelos tiros participavam ou estavam no entorno da festa organizada na quadra. Dono de um bar em outro ponto da Rocinha, José Auri Carlos andava por uma rua, nesta parte baixa da favela, quando acabou atingido.

    "Ele trabalhou a noite toda no bar que tem há 20 anos no final da rua do Valão. A casa dele era ao lado. Por volta das 4h, ele fechou o bar e resolveu encontrar um amigo, na parte baixa da Rocinha. E acabou baleado", disse Raimundo Carlos, 54, irmão da vítima.

    Um relatório preliminar feito pelo comandante responsável pelo policiamento da área confirma a origem da correria.

    "A viatura encontrava-se baseada próximo à quadra, onde acontecia uma confraternização natalina, quando (os policiais) começaram a ser hostilizados pelos frequentadores. Os policiais solicitaram reforço. Ouvia-se tiros provenientes da quadra e da localidade Roupa Suja (situada em um trecho mais alto do morro). Várias viaturas foram atacadas por pedras e garrafadas, danificando alguns veículos", diz um trecho do documento.

    VERSÃO DA PM

    O comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) apresentou uma versão diferente sobre o episódio, que não menciona a citada discussão entre moradores e o policial da UPP.

    De acordo com a nota da PM, "uma equipe policial, baseada na passarela que dá acesso à comunidade, foi atacada por frequentadores que saíam de um baile. Foram arremessadas pedras e garrafas contra os agentes".

    Segundo a PM, um policial, identificado apenas como soldado Douglas, torceu o pé e outro, soldado Ribeiro, foi atingido por uma pedrada na cabeça.

    Houve então um pedido de reforço. Ao se aproximar do local, de acordo com o comunicado, "o apoio policial foi recebido a tiros disparados por criminosos da localidade conhecida como Roupa Suja".

    Na sequência, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) foi chamado ao local. Ao entrar na favela, diz a PM, os policiais do Bope encontraram um morto no trecho conhecido como Lixeira, situado na parte baixa da favela.

    A PM afirmou que os policiais do Bope não realizaram disparos nesta incursão pela favela.

    Segundo a Delegacia de Homicídios, um inquérito foi instaurado para investigar a circunstâncias da morte de José Auri Carlos.

    Com a troca de tiros, houve interrupção do trânsito dos túneis de acesso a São Conrado, bairro que faz fronteira com a favela da Rocinha, por onde passa a Autoestrada Lagoa-Barra. O tráfego foi liberado por volta das 9h.

    COMUNIDADE PACIFICADA

    Em 2011, a Rocinha foi ocupada pela polícia. E, desde 2012, passou a abrigar uma Unidade Pacificadora de Polícia (UPP).

    A partir daí, 700 policiais passaram a monitorar as ruas e vielas da favela.

    Foi na Rocinha que o projeto da UPP, tratado como prioridade na segurança pública pelo Governo do Rio, sofreu o mais duro golpe em sua credibilidade.

    Em julho de 2013, o pedreiro Amarildo Dias de Souza desapareceu após ser detido por policiais militares da UPP local.

    A morte de Amarildo acirrou ainda mais os ânimos nas manifestações da rua realizadas na cidade do Rio no ano de 2013.

    Colaborou GABRIELA CAESAR

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024