Motéis, bares, casas de luxo e até uma empresa de concreto. Todos esses locais estão em uma lista de endereços onde a Sabesp e a Polícia Civil encontraram casos de desvio de água.
Entre janeiro e outubro de 2015 foram 17.600 flagrantes na Grande São Paulo e na região de Bragança Paulista, 36% a mais que no mesmo período do ano passado. O volume de água desviado também aumentou em 28%. No total, esses usuários consumiram 3 bilhões de litros de água em um ano, o suficiente para abastecer 290 mil paulistanos.
A grande maioria das fraudes identificadas acontecia em residências –15.200 ocorrências. Outras 1.500 eram em estabelecimentos comerciais e 900, em imóveis de uso misto e em indústrias. Segundo a Sabesp, no entanto, as fraudes em comércios e indústrias são mais graves, por desviarem mais água.
Na maioria das vezes, o alvo da fraude é o hidrômetro, aparelho usado para medir o consumo de água de um endereço. Em alguns casos, os fraudadores usam um "superímã" que interfere no campo magnético do aparelho, atrapalhando o funcionamento dos ponteiros.
<div>FURTO DE ÁGUA</div> - Bilhões de litros desviados (flagrantes entre jan-out)
Em outro tipo de adulteração do hidrômetro, uma broca de dentista é usada para abrir um furo no mostrador e interferir no movimento dos marcadores. Mas há também aqueles que simplesmente conectam irregularmente a tubulação do imóvel nos canos da Sabesp, sem avisar a empresa.
Nos dois casos, o fraudador consome a água, mas a Sabesp não consegue registrar corretamente o volume consumido. Segundo a empresa de abastecimento, denúncias de fraudes tiveram alta em 2015 por causa da crise hídrica, o que contribuiu para o aumento de flagrantes.
No ano passado, o Disque-Denúncia (181) recebeu 320 ligações relatando suspeita de furto de água. Em 2015, esse número quase triplicou. Já a Central de Atendimento Telefônico da Sabesp (195) recebeu 14% mais denúncias. A ligação é gratuita para os dois telefones, e é garantido o sigilo do denunciante.
A companhia trabalha com quase 70 equipes de "caça fraude" na Grande São Paulo e na região de Bragança Paulista. Os técnicos acompanham o histórico de consumo e vistoriam os imóveis quando há indícios de irregularidade ou quando recebem denúncia. Há até casos em que os fiscais se hospedam em hotéis suspeitos de adulteração dos medidores ou de outros desvios, para observar questões técnicas do prédio.
CRIME ORGANIZADO
A polícia investiga a existência de quadrilhas que oferecem o serviço de fraude a comerciantes e condomínios. Segundo Marcelo Fridori, superintendente de auditoria da Sabesp, as quadrilhas oferecem o serviço já pronto aos donos de lojas, indústrias ou síndicos de condomínios.
"Com a fraude, eles garantem a redução no valor da conta e cobram do cliente uma taxa baseada nesta redução", conta Fridori.
De acordo com a Sabesp e a polícia, quando o dono de um estabelecimento pratica uma fraude, ele pode ser enquadrado no crime de furto, que pode render um a quatro anos de prisão. "Muitas vezes, o dono do estabelecimento vai para a delegacia e chega a ser preso. Mesmo que pague fiança, ele deixa de ser réu primário", explica Fridori.