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    Sem manutenção, igreja tombada no Vale do Paraíba ameaça desabar

    TÂNIA CAMPELO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM REDENÇÃO DA SERRA (SP)

    09/01/2016 02h00

    Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
    Parede da igreja de Santa Cruz, em Redenção da Serra (SP), desabou após fortes chuvas
    Parede da igreja de Santa Cruz, em Redenção da Serra (SP), desabou após fortes chuvas

    Parte da memória de Redenção da Serra, município do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, está ruindo. A chuva que os moradores tanto pediram para pôr fim à seca agora ameaça seu principal patrimônio histórico.

    Após forte tempestade, uma parede lateral da centenária igreja Matriz de Santa Cruz caiu. A construção foi tombada pelo Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio) em 1982.
    O dano, ocorrido no dia 22 de dezembro, abalou ainda mais a estrutura fragilizada pela falta de manutenção.

    Trincas, rachaduras e infiltrações são vistas por toda a construção. Na terça-feira (5), um grupo de moradores cobriu a lateral da igreja com plástico, numa tentativa de protegê-la de novas chuvas.

    Construída em 1882, em taipa de pilão, a matriz fica na cidade velha, a única área de Redenção da Serra que não submergiu com a criação da represa da usina hidrelétrica de Paraibuna, pertencente à Cesp (Companhia Energética de São Paulo).

    A igreja ficou fechada por nove anos, entre 2004 e 2013, quando um grupo de moradores e a prefeitura decidiram limpar e reabrir o templo. Desde então, a comunidade realiza missas esporádicas, aulas de catequese e primeira comunhão no local.

    Na época da inundação, em 1973, a população da cidade, de cerca de 9.000 pessoas, foi levada para um loteamento construído a cerca de 3 km do reservatório. Hoje, a cidade tem 3.930 habitantes.

    "A cidade velha é o que sobrou do passado de Redenção. É triste ver nosso patrimônio desmoronando. A prefeitura já notificou a Cesp e o Ministério Público, mas até agora nada foi feito", disse Nelma Biondi de Angelis, secretária de Agronegócios e Meio Ambiente de Redenção.

    Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
    Buraco no teto de igreja construída em 1882 no Vale do Paraíba, São Paulo
    Buraco no teto de igreja construída em 1882 no Vale do Paraíba, São Paulo

    O Condephaat agendou para a próxima semana uma vistoria na igreja. Em nota, o órgão disse que a discussão sobre a restauração dos prédios históricos começou em 2011.

    Autor dos planos de restauração do Palácio da Justiça (São Paulo) e da Bolsa do Café (Santos), o arquiteto Samuel Kruchin desenvolveu um projeto para a realização emergencial de reparo.

    ELO COM CIDADE ALTA

    A execução foi estimada em R$ 15 milhões, mas não deve ser levada adiante porque faltam recursos para a construção de um dique para evitar a inundação da cidade velha em época de cheia. O dique também abriria uma ligação entre a cidade velha e a alta, encurtando a distância entre as duas.

    Segundo Kruchin, em agosto de 2015 a estatal descartou a possibilidade de realizar a obra. "O resultado é o que vemos aí hoje", disse.

    Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
    Interior de igreja no Vale do Paraíba, São Paulo, tem infiltrações
    Interior de igreja no Vale do Paraíba, São Paulo, tem infiltrações

    O presidente da companhia de energia, Mauro Arce, diz que gostou do projeto, mas que a Cesp não tem condições de construir a barragem. "Poderíamos contribuir, desde que a obra fosse enquadrada na Lei Rouanet [de incentivo fiscal], mas nunca chegaria aos R$ 3 milhões necessários para o dique", diz.

    Segundo ele, uma equipe da Cesp vistoriou o local esta semana e enviará um relatório ao governo federal para avaliação e definição de eventuais medidas para preservação dos prédios. "Aquilo tudo pertence a um condomínio, de que participam a União, os governos de São Paulo, Rio e Minas, Furnas e a Cesp", diz Arce.

    Para a prefeitura, o projeto de recuperação da cidade velha, além de proteger o patrimônio histórico, pode alavancar o turismo e a economia do município, que tem o segundo pior IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) da região.

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