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    Reduto da elite no litoral de SP, praia da Baleia ganha placas antixixi e cocô

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    ENVIADO ESPECIAL A SÃO SEBASTIÃO (SP)

    14/01/2016 02h00

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Associação de moradores instala placas anticocô e antixixi na praia da Baleia, no litoral paulista
    Associação de moradores instala placas anticocô e antixixi na praia da Baleia, no litoral paulista

    A Baleia é a praia que reúne a fina flor da elite paulistana. Seu canto esquerdo é o pedacinho mais encantador do cenário: coroado de pedras, ao lado de um morro adornado de vegetação, é
    o ponto onde casarões se camuflam em meio a gigantescos jardins, verdadeira extensão da mata atlântica.

    No último fim de semana, novos elementos agregaram-se à paisagem: placas, como as de trânsito, foram instaladas para alertar os banhistas de que é proibido fazer xixi
    e cocô naquele paraíso.

    "Pensei que fosse piada", espantou-se Bruna Lucchesi, 20, estudante que compartilha com amigos uma casa na Baleia neste verão. Não era.

    Segundo Leandro Saadi, 36, coordenador-operacional da Sabaleia (Sociedade Amigos da Praia da Baleia), a sinalização foi posta ali por causa do aumento do número de reclamações de proprietários, incomodados com o cheiro de urina. E mais: no último dia 3, foram retirados do local 4 kg de excremento.

    Saadi conta que os seguranças da praia ganharam mais uma atribuição: dar um pito nos porcalhões. Ao perceberem que alguém segue para lá com a intenção de aliviar suas necessidades, lançam mão de um ruidoso apito, acionado enquanto apontam a placa aos incautos.

    Um proprietário que praticava cooper na areia achou que pudesse esvaziar a bexiga ali mesmo. Imediatamente, a equipe entrou em ação. Resultado: o esportista teve de terminar o trajeto da corrida no banheiro de casa.
    Os Amigos da Praia da Baleia são um grupo que concentra cerca de 500 associados. Cada um deles arca com uma mensalidade ao redor de R$ 350, dinheiro até agora usado em segurança, manutenção e limpeza.

    Nesta temporada, a verba passou a custear também o serviço de educação dos frequentadores, que consiste em chamar a atenção de quem ouve música alto, de consumidores de drogas e daqueles que não têm pudor de fazer da praia banheiro público.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Associação de moradores instala placas anticocô e antixixi na praia da Baleia, no litoral paulista
    Associação de moradores instala placas anticocô e antixixi na praia da Baleia, no litoral paulista

    "Achava que as pessoas daqui fossem mais educadas, mas pensar assim, pelo fato de se tratar de uma praia elitizada, é um equívoco", afirma Otávio von Gal, 21, estudante veranista da Baleia.
    cadê o banheiro?

    O pessoal que trabalha na praia costuma dizer que aquela faixa de areia plana, com um pouco mais de 2 km de extensão, concentra 10% do PIB em condomínios de alto padrão, nos quais o valor de uma casa pode chegar a R$ 25 milhões. De "perfil familiar", a Baleia, por opção dos condôminos, não oferece estrutura de comércio.

    Quem não tem morada e está apertado terá de procurar um estacionamento ali em frente ou uma padaria, na vizinha Barra do Sahy, onde já se comercializa o uso do sanitário, que pode custar R$ 5, dependendo do dia e da demanda. Clientes dos estabelecimentos gozam da regalia sem desembolsar a taxa.

    A Sabaleia nem cogita a hipótese de instalar banheiros químicos na praia. Na avaliação do coordenador da entidade, as placas, situadas em pontos estratégicos, já surtem efeito. "Antes, o pessoal tirava foto da costeira. Agora, todo o mundo faz selfie com a placa", diz Saadi.

    Frequentadora da Baleia há mais de 20 anos, a professora Silvia Leal, 68, conta que já viu toletes boiando no mar. "As pessoas não respeitam. Jogam lixo, e isso independe de condição social", analisa.

    A irmã dela, a artista plástica Beth Leal, 58, que tem casa lá, apoia a iniciativa da Sabaleia: "Deveriam colocar essas placas em mais lugares". Reconhece, porém, que a situação tem sua complexidade: "Faltam banheiros no Brasil. Precisamos de mais estrutura para receber turistas".

    Sua amiga, Huguette Kerr, 56, também defende a ampliação da sinalização: "Iria constranger as pessoas que vêm fazer isso aqui".

    A administradora de empresas Angela Lacombe, 58, ao aproximar-se da ponta da praia, ficou perplexa ante as placas, que, em linguagem visual, tentam ensinar a população a ter bons modos:

    "O brasileiro chegou ao ponto em que precisa ser educado para o óbvio".

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