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    Idosa pode ser a primeira vítima de fumaça tóxica em Guarujá (SP)

    GILMAR ALVES JR.
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTOS (SP)

    19/01/2016 16h22 - Atualizado às 19h21

    Uma mulher de 68 anos pode ser a primeira vítima da fumaça tóxica liberada em um incêndio num terminal portuário de Guarujá, na Baixada Santista.

    Leia Magalhães de Maria morreu nesta segunda-feira (18), em Jundiaí, no interior paulista. Um laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou como causa insuficiência respiratória, pneumonite química e inalação de fuligem e gases tóxicos. Declarado no atestado de óbito, o resultado do laudo foi divulgado pela Prefeitura de Jundiaí.

    Na última quinta-feira (14), quando o incêndio no terminal da empresa Localfrio teve início, a idosa permaneceu em casa e começou a apresentar os primeiros sintomas logo depois. Segundo o filho Edmílson Magalhães de Maria, 45, a mãe lhe disse por volta das 20h, por telefone, que estava com a "garganta toda fechada, irritada". Ele contou que a mãe não tinha problemas respiratórios anteriores.

    Um dia depois, Edmílson a levou ao Hospital Ana Costa, em Guarujá, onde Leia foi atendida e liberada no mesmo dia.

    Segundo a assessoria de imprensa do hospital, foram ministrados medicamentos, hidratação e oxigênio à paciente, que ficou em repouso para a melhora dos sintomas. Após uma nova avaliação do estado clínico de Leia, ela recebeu alta com orientação para fazer repouso.

    Arquivo pessoal
    Leia de Maria, que era vizinha do local do incêndio em Guarujá e morreu nesta segunda
    Leia de Maria, que era vizinha do local do incêndio em Guarujá e morreu nesta segunda

    Para Délio Campolina, presidente da Abracit (Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica), a idosa deveria ter saído de casa logo depois que começou a se sentir mal. Ele disse que, em casos como esse, se a pessoa não for retirada do local e não receber o tratamento adequado o quadro pode se complicar e levar à morte.

    "Ao ter o ardor nos olhos, na garganta, alguma dificuldade para respirar, tem que já procurar sair desse ambiente e buscar atendimento médico para ter os primeiros cuidados", disse o presidente da Abracit. "Parece que assim ela teria tido uma boa evolução." Segundo ele, a fumaça é sempre perigosa porque "pode ter gases de toxicidade importante".

    Segundo o toxicologista da USP (Universidade de São Paulo) Anthony Wong, o laudo do IML "é perfeitamente compatível com uma pessoa que se expôs prolongadamente a uma substância tóxica e irritante como o cloro".

    "O fato de ela [Leia] estar dentro de casa por tanto tempo, a noite toda, nem precisa ter problema pulmonar. Só o fato de estar lá dentro [de casa] expondo o pulmão continuamente ao cloro é suficiente para uma inflamação das vias aéreas."

    Apesar de familiares da idosa dizerem que ela não tinha problemas respiratórios, Wong diz que uma pessoa acima dos 50 anos já tem uma alta possibilidade de ter bronquite ou enfisema, e certamente algum tipo de fibrose pulmonar, em menor ou maior grau, o que pode ter contribuído para o agravamento do caso. "Em qualquer pessoa acima de 50 anos a capacidade pulmonar cai, mesmo se for um esportista."

    Na avaliação de Wong, em uma situação de emergência como esta, ao invés de ficar no ambiente, a pessoa deve se afastar e ficar o mais distante possível do foco do acidente.

    Depois da alta, por decisão da família, Leia foi levada a Jundiaí, onde moram dois de seus filhos. No sábado (16), ela passou por outra consulta médica, no Hospital Pitangueiras, na qual foram constatados problemas gástricos. A idosa também fez exames laboratoriais e recebeu alta no mesmo dia, com a recomendação de observar eventuais sintomas relacionados à inalação da fumaça.

    Na manhã desta segunda, com a complicação do quadro de saúde e vômito persistente, Leia foi levada pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ao pronto-socorro do Hospital Pitangueiras, onde morreu em seguida, segundo a assessoria de imprensa da instituição.

    O sepultamento foi realizado na manhã desta terça-feira (19), no cemitério de Vicente de Carvalho, em Guarujá.

    Em nota, a Prefeitura de Guarujá informou que se solidariza com a família de Leia e que a idosa não passou por nenhuma das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) referenciadas para o atendimento da ocorrência.
    "Importante ressaltar que a prefeitura disponibilizou toda a estrutura das unidades de saúde, juntamente com reforço de médicos do Exército e Marinha", afirma a nota.

    A Localfrio informou que está apurando os fatos para se posicionar sobre o caso.

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