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    mosquito aedes aegypti

    Pernambuco tem falta de psicólogos para mães de bebês com microcefalia

    KLEBER NUNES
    DO RECIFE

    28/01/2016 02h00

    Mal se recuperou do baque de saber que o filho Daniel nasceu com microcefalia, e a auxiliar de padeiro Jaqueline Vieira, 25, sofreu outro revés: o marido a abandonou.

    "Depois que meu filho nasceu com 29,5 cm [de perímetro cefálico], o pai nos deixou. Só manda dinheiro, mas não quer saber muito dele. Estou profundamente triste", diz.

    Ela é uma das mães de bebês que nasceram com microcefalia supostamente causada pelo vírus zika que está à espera de atendimento psicológico em Pernambuco.

    Kleber Nunes/Folhapress
    Mães de bebês com microcefalia aguardam atendimento
    Mães de bebês com microcefalia aguardam atendimento

    O Estado lidera o ranking de casos suspeitos da má-formação, com 1.306 notificações desde agosto de 2015. Mas tem apenas 40 psicólogos na Secretaria de Saúde, segundo resultado parcial de uma pesquisa do Conselho Regional de Psicologia.

    Para a vice-presidente da entidade, Laís Monteiro, a conta não fecha. E preocupa. "É fundamental o atendimento psicológico a essas famílias. Mas temos um deficit preocupante desses profissionais na saúde pública."

    A necessidade do atendimento é reforçada pela assistente social Camilla Cabral, da Fundação Altino Ventura, entidade que prestará apoio psicológico às famílias.

    "[As mães] Chegam um pouco frustradas e com medo. Muitas entram em depressão. Teve até um caso de uma mãe que não queria nem sequer amamentar", conta.

    Segundo Alzeni Gomes, psicóloga e coordenadora terapêutica intelectual da fundação, há casos de negligência e de superproteção do filho com a má-formação, o que é prejudicial à criança. "Queremos que mães e pais entendam que os filhos podem e devem ter autonomia apesar da deficiência", disse.

    Nesta quinta-feira (28), grupos de oito a dez pessoas começam a se reunir semanalmente para sessões de terapia na fundação.

    Inicialmente, apenas 130 pessoas do Recife e do interior serão atendidas na instituição, que é conveniada ao SUS e oferece atendimento médico para a reabilitação de bebês com microcefalia.

    Hoje, o Estado tem nove unidades de referência para casos de microcefalia -quatro na capital. Também no Recife, está o Núcleo de Desenvolvimento Infantil, da prefeitura, que desde o dia 4 atende cerca de dez mães.

    No Hospital Universitário Oswaldo Cruz, vinculado à Universidade de Pernambuco, o atendimento deve começar em fevereiro.

    A Secretaria Estadual de Saúde informou que estuda como ampliar a oferta de acolhimento e reabilitação com as prefeituras, mas não tem previsão para a estruturação da rede.

    Editoria de Arte/Folhapress
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