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    Fundação referência em microcefalia sofre sem repasses em PE

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL AO RECIFE

    29/01/2016 02h00

    Referência na reabilitação de bebês com microcefalia em Pernambuco, Estado que concentra maior número de registros da má-formação, a Fundação Altino Ventura está sendo obrigada a demitir funcionários, reduzir a estrutura de atendimento e recorrer a empréstimos devido à falta de repasse de verbas públicas.

    A instituição, que cuida de 135 crianças com microcefalia no Recife, não recebe recursos do governo federal e estadual desde maio do ano passado -desde então, deveriam ter chegado R$ 13,3 milhões.

    "Demitimos 16 colaboradores neste mês e desativamos um dos dois blocos de cirurgia", disse à Folha Liana Ventura, presidente da fundação, que terá que pedir empréstimos para cobrir custos.

    O Ministério da Saúde afirmou que a liberação de verbas está regular e que o Estado não está repassando os recursos para a instituição.

    "É importante esclarecer que foi enviado no dia 9 de novembro de 2015 ofício para a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco solicitando a regularização dos pagamentos ao CER 4 (centro de reabilitação)", disse a pasta.

    Avener Prado/Folhapress
    Mães esperam por atendimento na Fundação Altino Ventura
    Mães esperam por atendimento na Fundação Altino Ventura

    Já a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco afirmou, por meio de nota, que "todos os débitos com a unidade estão sendo gradativamente sanados."

    A Fundação Altino Ventura dirige o Centro Especializado em Reabilitação "Menina dos Olhos", um dos poucos que oferece reabilitação visual, física, auditiva e intelectual. Segundo levantamento da instituição, cerca de 40% dos bebês com microcefalia ligada ao zika têm problemas visuais.

    O centro ajuda no diagnóstico das crianças e em rotinas de fisioterapia para aumentar o desenvolvimento dos bebês com microcefalia.

    O Ministério da Saúde afirmou recentemente que o "estímulo precoce" é essencial.

    "A estimulação ajuda a desenvolver ao máximo o potencial da criança. Com esse atendimento, buscamos dar maior autonomia à criança e à sua família", disse o secretário de Atenção à Saúde da pasta, Alberto Beltrame.

    "Pode ser definitivo, por exemplo, para a criança aprender a segurar a cabeça, sentar, engatinhar e andar, dependendo da gravidade", declarou Beltrame.

    Ao lado da AACD de Recife, a Fundação Ventura recebe centenas de bebês diagnosticados com microcefalia nos últimos meses. Pernambuco é o Estado com maior número de casos de microcefalia ligada ao zika notificados : 1.373, dos quais 138 foram confirmados e 1.125 estão em investigação.

    Na manhã desta quinta-feira (28), cerca de 30 mães e seus bebês passaram por consultas do neuropediatra, oftalmologista, psicólogo e fisioterapeuta na fundação.

    A recepcionista Danielle Santos, 29, trouxe o filho Juan Pedro, de dois meses, para fazer exames oftalmológicos e neurológicos. "O Juan chora muito, só para quando está no banho", diz Danielle. O pai da criança abandonou Danielle quando Juan tinha um mês. Ela tem ainda uma filha de 11 anos, Jennifer, que ajuda a cuidar do irmão.

    Os bebês com microcefalia costumam ser muito irritadiços, chegam a chorar durante horas, ininterruptamente, e têm problemas para segurar o pescoço e fazer outros movimentos, o que varia segundo a gravidade do caso.

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