• Cotidiano

    Friday, 19-Apr-2024 07:16:11 -03

    Sindicalista dos taxistas de SP diz que a palhaçada acabou e que agora é cacete

    DE SÃO PAULO

    29/01/2016 13h12

    O presidente do Simtetaxis (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores nas Empresas de Táxi de São Paulo), Antonio Matias, postou um vídeo em uma rede social no qual afirma que o prefeito Fernando Haddad (PT) não cumpre o compromisso firmado com os taxistas e que a palhaçada na cidade acabou e, agora, é cacete.

    O vídeo (assista abaixo) foi postado horas depois de o prefeito afirmar, na manhã desta quinta-feira (28) que os taxistas "vão desaparecer pela concorrência predatória" se eles não aceitarem a regulamentação do aplicativo Uber na cidade.

    O prefeito afirmou ter dito isso em diversas reuniões com representantes da categoria para explicar a dificuldade de fiscalizar algo que não é regulamentado. "Quando o transporte coletivo era clandestino, você tinha pontos de parada [para fiscalizar], mas uma nuvem é difícil. Se existe a possibilidade dessa empresa de regular, então vamos fazer isso", disse.

    No vídeo, Matias diz estar aborrecido com a declaração dada por Haddad e que o prefeito não deve brincar com os taxistas. "Não brinque com essa categoria, respeito é bom e os taxistas merecem. (...) Não queira briga com esse presidente. (...) A Uber não vai trabalhar em São Paulo. Ela só vai trabalhar se for em modal táxi. No carro particular nós não vamos permitir. O senhor disse que não pode fiscalizar as nuvens, então, mande tirar das nuvens. Ocupe seu lugar de excelência. (..) Somos bem antes do Uber."

    O presidente do Simtetaxis disse que estará na "cola" do prefeito, que tem como fiscalizar e que a palhaçada na cidade acabou e, agora, é cacete. "Tem como fiscalizar, só nós já prendemos mais de 250 carros junto com fiscais do DTP [Departamento de Transportes Públicos]. Se o senhor não sabe é porque o departamento do senhor é corrupto. Acabou a moleza prefeito Haddad. Chega de palhaçada nessa cidade. Agora é cacete. Ou regulamenta os aplicativos certos para trabalhar com táxi ou vão trabalhar fora dessa cidade."

    Chello Fotógrafo/Futura Press/Folhapress
    Taxistas cercam carro preto durante evento hotel Unique, nos Jardins
    Taxistas cercam carro preto durante evento no hotel Unique, nos Jardins

    Essa não é a primeira declaração polêmica dada pelo sindicalista sobre a regulamentação do Uber. Em junho do ano passado, Matias disse: "Não temos como conter a categoria", "vai ter morte", durante uma audiência na Câmara dos Deputados.

    Antônio Raimundo Matias dos Santos, conhecido como Ceará, queria pressionar os deputados federais contra a liberação desse serviço -visto como concorrência desleal pelos taxistas. "Eu quero dizer aos nobres deputados para que tomem providências porque, se não tomarem, não temos como conter a categoria", disse Ceará, na ocasião.

    O "recado" dele, mais tarde, foi reforçado por outro representante da categoria, que voltou a falar na possibilidade de essa disputa por passageiros resultar em violência. "Pode ocorrer sim uma desgraça porque os motoristas estão revoltados. Um grupo veio falar comigo para dizer que, se a lei não fiscalizar esses clandestinos, eles vão tomar uma atitude. Hoje ele [Santos] deu o recado", disse Natalício Bezerra, presidente do Sinditaxi (Sindicato dos Taxistas Autônomos de SP), também presente na audiência.

    POLÍCIA MILITAR

    O vereador Adilson Amadeu (PTB), aliado dos taxistas, estava na frente do hotel onde carros do Uber foram depredados e criticou a ação da polícia contra os agressores. "O que aconteceu: os cidadãos do Uber vinham na cara-de-pau, entregavam os passageiros e o pessoal revoltado. Aí aconteceu o que aconteceu. A Polícia Militar foi agressiva demais. Jogou spray de pimenta, deu borrachada [nos taxistas] sem necessidade. Quebrou um carro da Uber, prende o cidadão, leva para a delegacia. Agora ficar batendo, está tudo errado", afirmou.

    Para ele, que diz ser contra os episódios de agressão, essas brigas podem se agravar e o responsável é o prefeito Fernando Haddad (PT). "É uma guerrinha que pode dar coisa feia e o culpado é o Haddad. Ele acha que está na França e que vai ser fácil assim, que vai ficar tranquilo [regulamentar o Uber]. Ele que mande um projeto para a gente debater na Câmara", afirmou.

    Ele disse ter ido no protesto para não "haver baderna" e tinha mandado um ofício para o DTP (Departamento de Transportes Públicos) pedindo para reforço na fiscalização o uso do aplicativo Uber em eventos na capital paulista.

    Em nota, a gestão Haddad informou que "condena violência e lamenta que os atos tenham ocorrido no momento em que o debate para a regulação do transporte publico individual está aberto na cidade".

    A prefeitura disse ainda que faz fiscalização, mantém dialogo com os taxistas e promove consulta pública sobre a regulamentação do Uber, que já recebeu mais de 6.000 contribuições. A administração municipal afirma que "o episodio será investigado pela polícia e o DTP e tomará as providencias cabíveis se ficar comprovada a participação de taxistas."

    O repórter-fotográfico Nando Matheus, 34, se feriu após fotografar a depredação contra um carro do Uber. "Fui correr dos taxistas que vieram para cima de mim. Não sei se teve algum empurrão ou fraqueza, mas caí e bati o joelho depois de fazer a última foto de um deles", afirmou.

    Ele disse que, mesmo no chão, os taxistas tentaram pegar a câmera dele e gritavam para que ele apagasse os registros. "Puxaram minha mochila e minha câmera, mas eu fiquei em posição fetal e eles não levaram nada. Só a tela do meu notebook que quebrou."

    Ele recebeu atendimento médico e vai ficar fazer um tratamento por ao menos cinco dias antes de uma nova avaliação. Exames detectaram uma lesão leve num ligamento lateral do joelho.

    TUMULTO EM FESTA

    Logo após a divulgação do vídeo, um grupo de taxistas abordou os carros pretos que pararam em frente ao hotel Unique, nos Jardins, onde ocorria o baile de Carnaval da revista "Vogue", entre às 22h desta quinta (28) e a madrugada desta sexta-feira (29). A medida visava inibir os convidados que deixavam o local de utilizar os serviços do aplicativo Uber.

    Uma jovem que trabalha em um bar próximo, que não quis ser identificada, disse que um grupo de 15 a 20 taxistas cercava todos os carros pretos que paravam perto do hotel.

    Segundo a jovem, bastava alguém gritar a palavra Uber para um grupo de 15 a 20 taxistas correr em direção ao carro preto, xingar e hostilizar o motorista. "A sensação de medo e insegurança só aumentava toda vez que eles corriam, subiam em cima dos carros e jogavam pedras", falou, aliviada de ter conseguido chegar em casa em segurança.

    A Polícia Militar informou que mais de 200 taxistas participaram do protesto. O capitão Edenilson Gabriel de Freitas, supervisor regional da região oeste, falou que houve um tumulto entre taxistas e motoristas do Uber. Após uma conversa com os manifestantes, o capitão garantiu que entrou em acordo com o grupo e o protesto ficou pacífico.

    Antes do acordo, um fotógrafo ficou ferido e um carro foi depredado por um grupo de manifestantes. O autônomo Francisco Carlos Indalecio, dono do Ford Fusion danificado, disse que não trabalha para o Uber e que tinha ido levar alguns amigos da filha à festa.

    Martha Alves/Folhapress
    Autônomo Francisco Carlos Indalecio tem Ford Fusion danificado por taxistas durante protesto contra Uber em frente ao hotel Unique, nos Jardins, onde ocorria o baile de Carnaval da revista "Vogue"
    Autônomo tem veículo danificado durante protesto de taxistas em São Paulo contra o aplicativo Uber

    "Dei a volta no quarteirão e parei o carro para telefonar. Uns dez taxistas gritaram 'é Uber' e começaram a depredar o carro", explica Indalecio no 14º DP (Pinheiros), onde registrou um boletim de ocorrência. O para-brisa e um retrovisor foram quebrados, mas eram visíveis as marcas de depredação em todo o carro.

    Um taxista detido sob suspeita de ter participado do ataque ao carro foi levado à delegacia, mas foi liberado após o autônomo não conseguir reconhecê-lo. Os taxistas se defenderam afirmando que a confusão toda começou após um motorista do Uber jogar pedras contra um carro do grupo. Segundo os manifestantes, ao menos três táxis foram danificados.

    Como funcionao Uber

    REGRAS PARA O UBER

    Prefeitura de SP lança projeto para regulamentar aplicativos de transporte

    Consulta pública 30 dias para receber sugestões, que serão analisadas por um grupo de trabalho

    O QUE PREVÊ O motorista deverá pagar taxa flexível à prefeitura para cada viagem realizada. O valor será calculado com base em quatro fatores:

    HORÁRIO DA VIAGEM Se no horário de pico, tende a ser mais caro; se de madrugada, tende a ser mais barato)

    LOCAL DO INÍCIO DA VIAGEM Se no centro expandido, tende a ser mais caro; se fora dele, tende a ser mais barato

    DISTÂNCIA PERCORRIDA Se menor, tende a ser mais caro; se maior, tende a ser mais barato

    COMPARTILHAMENTO Se não for uma viagem compartilhada, tende a ser mais cara; se for compartilhada, tende a ser mais barata

    O QUÊ A PREFEITURA DE SP PRETENDE

    • diminuir o número de carros
    • diminuir a poluição atmosférica
    • otimizar a utilização da infraestrutura urbana

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024