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    mosquito aedes aegypti

    Sem padrão entre Estados, 'mapa' da microcefalia no país é incerto

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    01/02/2016 02h00

    Três meses após o governo decretar emergência devido ao avanço dos casos de microcefalia, o uso de critérios diferentes por Estados para informar dados ao Ministério da Saúde deixa dúvidas sobre o "mapa" real da expansão do problema no país.

    Desde outubro, médicos e hospitais relatam um aumento inesperado na identificação de recém-nascidos com suspeita da má-formação. A distribuição dos números desse avanço no Brasil, porém, ainda é incerta.

    Na tentativa de apontar um cenário, a pasta criou em novembro um sistema para receber os dados e passou a fazer balanços semanais. O último deles, com dados até 23 de janeiro, aponta 3.448 bebês com suspeita de microcefalia. Outros 270 tiveram o quadro já confirmado.

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    OS NÚMEROS DA MICROCEFALIA
    Falta de critério único entre Estados dificulta 'mapa' do avanço da microcefalia

    OS PARÂMETROS DO GOVERNO FEDERAL - Quando os casos devem ser notificados

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    Alguns Estados, porém, têm usado critérios diferentes do recomendado para realizar os registros. Outros têm corrigido com frequência os dados ou alegam dificuldade em identificar os casos.

    No balanço nacional, por exemplo, ainda aparecem registros em que o perímetro da cabeça do recém-nascido é maior do que os 32 cm definidos como limite pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

    O parâmetro passou a ser adotado pelo governo federal em dezembro. Alguns Estados, como Rio de Janeiro, revisaram os dados, mas outros, como Pernambuco, não.

    Nesse último, dos 1.373 casos notificados desde o início do surto até a última semana, só 530 seguem o parâmetro da OMS –o que pode inflar o balanço do Estado que hoje lidera os registros no país.

    A Secretaria Estadual de Saúde diz que os casos ainda passarão por exames e, por isso, foram mantidos.

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    DIFERENTES CRITÉRIOS
    Mais de 32 cm
    Mesmo após mudança de critério, feita em dezembro, dados enviados pelos Estados ainda abrangem casos acima do parâmetro da OMS para definir microcefalia

    Outras infecções
    Sem um teste rápido para confirmar casos de microcefalia relacionados ao vírus, ministério orienta confirmar todos aqueles com sinais de infecção congênita

    Só zika
    Com o vírus como hipótese para avanço, São Paulo optou por informar apenas casos de microcefalia em que a mãe informou ter tido sintomas de zika na gestação. Vírus, porém, pode ser assintomático

    Correções
    Ao menos dez Estados já revisaram dados divulgados a cada semana. Amazonas, por exemplo, chegou a informar um caso de microcefalia, mas corrigiu a informação na semana seguinte

    Microcefalia

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    MENOS DADOS

    Outros Estados, por sua vez, puxam os dados para baixo. É o caso de São Paulo, que optou por notificar apenas os casos de microcefalia em que as mães dos bebês relatam terem tido sintomas de zika durante a gestação.

    Cerca de 80% dos infectados pelo zika, porém, são assintomáticos. O Ministério da Saúde orienta que todos os casos sejam informados.

    Hoje, São Paulo tem 21 casos em investigação. Em um outro sistema de registro, municípios paulistas, porém, informam número superior: 126 casos desde novembro.

    A diferença nos dados paulistas foi divulgada pelo "El País". Questionado pela Folha, o secretário de Saúde, David Uip, diz que, antes do surto atual, o registro não era obrigatório e havia subnotificação. Ele defende a decisão do Estado de esperar a confirmação do exame.

    "Qual o temor? Que estejamos notificando muito mais do que a realidade do vírus zika", afirma o secretário.

    Já o médico e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito, defende que, ainda que houvesse subnotificação, o aumento é evidente.

    Segundo ele, os dados atuais são superiores ao registrado na literatura médica como ocorrência esperada de microcefalia, de 0,5 a 2 casos a cada 10 mil nascidos vivos.

    Considerando só os 530 casos mais prováveis em Pernambuco, por exemplo, a proporção chega a 37,7 a cada 10 mil nascidos vivos na região. "É algo que não passa despercebido."

    Para o infectologista Artur Timerman, o padrão é importante para evitar que possíveis casos não sejam investigados.

    "Não é possível um Estado resolver uma coisa, e outro, outra. Isso é até ilegal."

    Editoria de Arte/Folhapress
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