• Cotidiano

    Saturday, 04-May-2024 06:51:20 -03

    mosquito aedes aegypti

    Governos pretendem transformar vacina contra dengue em antizika

    JULIANA CUNHA
    EDUARDO GERAQUE
    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    22/02/2016 16h45

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 22.02.2016- A presidente Dilma Rousseff junto com o governado do Estado de Sao Paulo, Geraldo Alckmin assinam contrato entre o Ministerio da Saude e a Fundacao Butantan para o desenvolvimento da vacina da dengue no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER) ORG XMIT: Vacina contra Dengue
    A presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em evento em São Paulo que marca os primeiros testes da última fase da vacina contra a dengue

    Os governos federal e de São Paulo pretendem aproveitar uma vacina contra a dengue que está em fase final de testes para criar um imunizante único —que, além de evitar os quatro tipos da doença, seja ainda antizika.

    A aposta foi divulgada nesta segunda-feira (22) pela presidente Dilma Rousseff (PT) e por integrantes da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), no evento em que a União liberou R$ 100 milhões para a terceira e última etapa de testes da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, do governo paulista.

    "O desafio é chegar à vacina contra o zika vírus. Um dos caminhos é esse, de transformar essa vacina tetravalente [contra os quatro tipos de dengue] em uma vacina pentavalente [incluindo ainda a zika]", afirmou Dilma.

    A vacina contra a dengue do Instituto Butantan começou a ser estudada em 2008 —e a estimativa é que possa ser aplicada em 2018.

    Infográfico: Epidemia de dengue em São Paulo

    O aporte da União para desenvolvê-la só chegou agora, em meio à repercussão mundial do avanço do vírus da zika, transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue. Antes, havia financiamento do governo paulista, do BNDES e da Fapesp (fundação paulista para pesquisas).

    Mas, segundo especialistas, a vacina única precisa seguir testes independentes e deve demorar ainda mais, mesmo que seja aproveitado parte do que já foi adquirido nos testes da vacina contra a dengue.

    "O desenho de fazer uma mesma vacina contra dengue e zika é interessante, mas, primeiro, é preciso saber como o vírus da zika realmente se comporta", diz Esper Kallás, infectologista do Sírio-Libanes e pesquisador da USP.

    "O mais importante é continuar com os testes da vacina contra dengue, que, em termos de saúde pública, é até mais importante que a zika", afirma Sylvio Renan de Barros, que atuou por três décadas no Hospital Sabará.

    Em 2015, a epidemia de dengue no país bateu recorde, com 1,6 milhão de casos.

    O surto de zika despertou atenção mundial especialmente devido à possível relação com a alta de casos de microcefalia (má-formação no cérebro de recém-nascidos). De outubro para cá, foram confirmados 508 casos e há outros 3.935 em investigação.

    A vacina do Butantan contra a dengue passou pelas fases 1 e 2 (para avaliar a segurança do produto) e será testada em 17 mil voluntários (para mensurar sua eficácia).

    O presidente do Instituto Butantan, Jorge Kalil, diz que, se a mistura não for bem-sucedida, será desenvolvida uma nova vacina separada do imunizante contra dengue.

    APOSTAS

    Além dos R$ 100 milhões liberados nesta segunda pelo Ministério da Saúde, a gestão Dilma se comprometeu com mais R$ 200 milhões que devem vir do Ministério da Ciência e Tecnologia e do BNDES.
    O dinheiro servirá para aumentar a capacidade de produção de vacinas do instituto paulista, por exemplo.

    Incidência de dengue até 3ª semana de 2016

    Um outro convênio firmado é para desenvolver tratamento a pessoas infectadas pela zika. O instituto irá estudar soros e medicamentos capazes de diminuir os efeitos do vírus no organismo.

    "Os dois são igualmente importantes, pois nós conseguiríamos atuar nas mulheres grávidas, principalmente, tentando evitar a transmissão de mãe para filho de zika vírus", disse David Uip, secretário da Saúde do governo Alckmin.

    A Fapesp ainda vai investir R$ 100 milhões em trabalhos científicos para investigar dengue, zika e chikungunya.

    Dengue fase a fase

    OUTRA VACINA

    Uma outra vacina contra a dengue, produzida pela multinacional francesa Sanofi Pasteur, começou a ser usada nas Filipinas nesta segunda (22) e deve chegar ao Brasil até junho

    O medicamento, que já foi registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim de dezembro, terá seu preço determinado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos nos próximos meses. O laboratório responsável diz que já está pronto para comercializar o produto no país.

    México, Paraguai e El Salvador também já registraram a Dengvaxia, nome comercial do imunizante desenvolvido pelo laboratório Sanofi, que também pretende lançar uma vacina contra o vírus da zika até o fim do ano que vem.

    A vacina foi testada em um grupo de 21 mil pessoas situadas em cinco países onde a dengue é endêmica —Brasil, Colômbia, México, Honduras e Porto Rico— e apresentou uma eficácia global de 66% contra as quatro variações do vírus.

    A vacina se mostrou mais eficiente contra a dengue tipo 4 (83%) e 3 (73%) e menos eficiente contra os tipo 1 (58%) e 2 (47%). O estudo foi feito com pessoas entre 9 e 45 anos.

    O imunizante deve ser aplicado em três doses, com intervalos de seis meses, o que tende a prejudicar sua implementação em massa já que muita gente abandona o tratamento no meio do caminho. A proteção começa 21 dias depois da primeira dose.

    Segundo Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, o medicamento chegará primeiro à rede particular.

    Nas Filipinas, primeiro país a comercializar a vacina, o medicamento está sendo distribuido via convênio médico.

    Casos confirmados nas 3 primeiras semanas

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024