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    mosquito aedes aegypti

    Famílias reúnem doações para mães de bebês com microcefalia no país

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    28/02/2016 02h00

    "Eu estava terminando o supletivo quando engravidei. Agora tive que parar. A Isabella não tem carrinho nem berço. O berço nem caberia em casa, mas o carrinho seria muito útil. Ela chora muito e não consegue esticar o corpinho inteiro. Quero que ela se desenvolva e, quando crescer, que possa estudar e que seja independente."

    Além do carrinho, Isabella, nem dois meses completos, precisava de fraldas, leite em pó e itens de banho. Depois do relato de sua mãe, Mariane Oliveira, 20, ela recebeu tudo isso –até dinheiro para comprar o carrinho no Rio, onde mora, "de uma moça de Belo Horizonte".

    A conexão entre Mariane e essa doadora mineira se deu por meio do site "Cabeça e Coração", projeto de uma família que se sensibilizou com os casos de microcefalia no país. Mariane diz não saber se pegou o vírus da zika –que, segundo o Ministério da Saúde, está relacionado ao surto da má-formação. "Tive manchas vermelhas no corpo no começo da gravidez." No oitavo mês, conta, descobriu que a filha tinha microcefalia.

    Marcus Leoni/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 26.02.16 14h A advogada Nicolle Ramos, 28, esta gravida de sete meses. Fez um cha de bebe e pediu doacoes para familias que tem bebes com microcefalia. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO)
    A advogada Nicolle Ramos, 28, pediu doações para famílias que têm bebês com microcefalia

    "Desde que começaram a surgir histórias assim, quisemos ajudar. Resolvemos usar a tecnologia a que temos acesso, tão fácil para nós, para conectar quem precisa de ajuda e quem tem vontade de ajudar", explica a jornalista Maria Clara Vieira, 24.

    As outras administradoras da página são sua irmã, que tem 15 anos e quer prestar vestibular para medicina, e a mãe, de 51 anos, formada em economia. As três vivem em São Bernardo (Grande SP). No site do projeto, na página no Facebook (que tem 3.000 curtidas) e no Instagram (4.000 seguidores), as três postam histórias de mães com filhos microcéfalos e divulgam os itens de que mais precisam, além de um endereço para o envio das doações.

    "Algumas mães falam em doadores únicos que deram R$ 500, outras são tão simples que nem checam extrato para ver o que entrou. Há também doações presenciais", diz Maria Clara. "Amor os bebês já têm, o que falta são bens materiais e uma boa infra-estrutura, médicos e hospitais. Não conseguimos mudar isso de um dia para o outro, mas dá para fazer pequenas coisas."

    Um dos locais onde a iniciativa já deu resultado foi Arapiraca, em Alagoas. Usuários do Instagram viram, em uma postagem do "Cabeça e Coração", que Samuel, nascido em dezembro do ano passado, precisava urgentemente ir a um oftalmologista –a espera era grande no SUS, segundo sua avó, Nilda Sirqueira, 42.

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    Após a mobilização na rede, conseguiram uma consulta gratuita na cidade. "Chorei de alegria", diz Nilda. O restante do tratamento é feito pelo SUS em Maceió, a 100 km dali. Um carro da secretaria da Saúde leva a família à capital quando necessário. Só que, para chegar à sede da pasta, segundo Nilda, a família caminha uma hora. "Os táxis cobram R$ 20, e isso é dinheiro de um lanche." Nilda afirma que ela, o marido e o filho tiveram o vírus da zika. Já a nora, de 16 anos, não tem certeza se teve.

    O "Cabeça e Coração" inspirou outras semelhantes pelo Brasil. Daqui a duas semanas, o empresário Henrique Melo celebrará seu aniversário de 45 anos em uma festa para 150 convidados em um restaurante no Recife, Pernambuco, Estado com maior número de casos de microcefalia confirmados (209). No convite da festa, ele avisa: "O seu presente será uma doação". Espera arrecadar dinheiro para enviar às mães do projeto.

    CHÁ DE BEBÊS

    De São Paulo, a advogada Nicolle Ramos, 28, também quis ajudar. Grávida de sete meses, pediu no seu chá de bebê fraldas para sua primeira filha e mais um item para dar a mães de crianças com microcefalia no Estado. Cerca de 80 convidados levaram latas de leite em pó, pomadas para assadura, sabonete e roupas de bebê.

    "Eu tenho a possibilidade de oferecer alguma coisa melhor para minha filha, mas muita gente não tem. Grávida, fico comovida", diz ela, que afirma sentir "um medinho novo" a cada ultrassom.

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