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    De fora do país, sites promovem aposta no Paulistão e no BBB

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    28/02/2016 02h00

    Kadu, atacante do Matonense, talvez não saiba, mas seu gol na vitória contra o Comercial, pela oitava rodada da terceira divisão do Campeonato Paulista na quinta-feira (25), rendeu alguns trocados a apostadores brasileiros.

    Mais precisamente, o atacante rendeu R$ 3,50 a cada real apostado em seu time.

    O saldo consta em um dos diversos sites de apostas dedicados ao público brasileiro.

    Com poucos cliques, qualquer um tem a chance de testar a sorte ao apostar nos principais campeonatos regionais brasileiros, em campeonatos nacionais controlados pela CBF e até em quem ganhará o "Big Brother Brasil".

    Com textos em português, a maioria das páginas na internet permite ao usuário fazer apostas na moeda brasileira a partir de transferências feitas por bancos locais.

    São populares também as apostas em lutas de MMA. Na disputa do último sábado (27), que teve Anderson Silva como principal atração, as apostas mostram o favoritismo do brasileiro. Na quinta (25), a vitória dele pagava apenas R$ 1,30 a cada R$ 1 apostado. Já a derrota, desacreditada, pagaria R$ 3,45 a cada R$ 1 em apostas.

    Embora cada vez mais populares, as apostas permanecem proibidas no país.

    Para tentar driblar a legislação brasileira, no entanto, muitas das páginas estão registradas em países europeus ou do Caribe onde o mercado de apostas é legalizado.

    A versão brasileira dos sites é apenas uma interface voltada ao público brasileiro de uma casa de aposta que está fora do país.

    Já há inclusive quem ganhe dinheiro ensinando técnicas a novos apostadores. É o caso do site "Clube da Aposta", que diz ensinar "os usuários a ganhar dinheiro com uma das maiores paixões do nosso país: o futebol".
    "Quando o brasileiro descobre que ele pode dar uns pitacos e ainda ganhar dinheiro com isso, a primeira impressão é muito boa", diz Murilo Andrade, 21, sócio do site.

    Segundo seus sócios, o site, que é hospedado nos Estados Unidos, tem 82 mil visitantes mensais. E uma das principais dúvidas dos usuários é se há algum impedimento legal em fazer apostas do Brasil. "O nosso entendimento é de que a lei dá o respaldo para que as pessoas possam apostar [pela internet] sem serem punidas", afirma Andrade.

    Segundo Leandro Bissoli, advogado especialista em direito digital, há uma zona cinzenta sobre a questão. Embora a exploração da aposta seja ilícita, caberá sempre o argumento de que o apostador estava num ambiente digital respeitando as regras do país onde o site está hospedado.

    BBB

    Caso o apostador brasileiro se canse de opções esportivas, ele pode dedicar-se ao "Big Brother Brasil", já que até as votações para eliminar participantes do programa são alvo de palpites.

    Em um site, a estudante Munik, 19, por exemplo, é a favorita para ganhar a competição. Segundo as apostas, a vitória da sexagenária Geralda é a mais improvável.

    A TV Globo informou que desconhece os sites de apostas que envolvem seu programa.

    Eduardo Anizelli - 31.ago.2012/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 02-03-2012, 01h54: Policias observam maquinas caca-niqueis em galpao na Av. Santo Amaro. As buscas por criminosos que fizeram arrastao em um restaurante oriental na Rua Bastos Pereira levaram a policia a descobrir um galpao na Av. Santo Amaro, que funcionava como deposito de maquinas caca-niqueis. Foram apreendidas aproximadamente 300 maquinas no local. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO)
    Policial observa caça-níqueis apreendidos em galpão em São Paulo

    REGULAMENTAÇÃO

    Em julho passado, a Polícia Militar paulista invadiu, após denúncia anônima, um prédio de três andares nos Jardins, e encontrou 21 apostadores jogando em máquinas caça-níqueis.

    Na operação foram retidas 53 das mais de 14 mil máquinas apreendidas na cidade de São Paulo em 2015. O número é um indicativo de como o segmento, mesmo que ilegal, permanece forte no Brasil.
    A forma de combater o jogo ilegal no país e sua ligação com outros crimes, no entanto, causa discórdia entre especialistas ouvidos pela Folha.

    Para o Ministério Público Federal, há hoje no Brasil poucos instrumentos institucionais capazes de controlar esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção que viriam na esteira da liberação do jogo.

    No início do mês, o MPF chegou a enviar um pedido ao Senado para que um projeto sobre o tema do senador Ciro Monteiro (PP-PI) seja rediscutido em uma comissão especial da Casa. O projeto prevê a legalização de jogos de azar, do jogo do bicho, bingos e cassinos.

    O pedido dos procuradores argumentava que o projeto havia tramitado rápido demais na comissão especial do Senado sobre medidas contra a crise econômica.

    "Sob o ponto de vista de incremento de renda, dos efeitos colaterais com o tratamento de dependentes de jogos, da atividade de sonegação de impostos e da lavagem de dinheiro, falta uma discussão mais aprofundada se isso teria um efeito positivo ou não. Se isso é de interesse público", diz o procurador federal Peterson de Paula.

    Já segundo o professor da FGV Pedro Trengrouse, a lógica é oposta. A regulação do mercado, se bem feita, tenderia a forçar a saída de quem atua na ilegalidade. "A primeira preocupação é o monitoramento e a fiscalização. Mas é hora de permitir que a indústria se desenvolva."

    A ideia é compartilhada por Francesco Rodano, da agência italiana reguladora de jogos. "A alternativa à regulação é fingir que o jogo de azar não existe", diz. Para ele, no entanto, a regulação exigiria um incremento nas instituições contra a lavagem de dinheiro e corrupção.

    Colaborou PAULO GOMES

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