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    Com alagamento até em pousadas, litoral de SP tem rotina 'sem sossego'

    GUILHERME BRENDLER
    ZANONE FRAISSAT
    ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO SEBASTIÃO

    02/03/2016 02h00

    Durante a alta temporada, o sossego de quem vive do turismo nas praias de São Sebastião, no litoral norte paulista, acaba por um bom tempo, mas não é só por causa da demanda de veranistas. Os estragos e prejuízos causados pelas chuvas são constantes para donos de pousadas, bares e restaurantes.

    Nesta terça (1º), dia seguinte à forte chuva que atingiu São Sebastião e provocou a morte de um casal dentro de casa em Boiçucanga após um deslizamento de terra, a história se repetiu. Muitos ainda limpavam seus estabelecimentos depois da inundação.

    Em Maresias, André Teston, 30, dono da pousada Pantai, supervisionava a limpeza de um quarto desocupado. Um sofá ficou encharcado e uma geladeira foi danificada pela água, mas não chegou a pifar de vez. Alguns dos dez quartos ficaram alagados, e três frigobares foram parar no conserto.

    Na Pantai, cuja diária varia entre R$ 150 e R$ 300, poucos visitantes estavam hospedados de domingo (28) para segunda. Teston ofereceu outra garagem, distante dali, para que os hóspedes pudessem estacionar seus carros.

    Na véspera do Natal de 2014, outra enchente atingiu São Sebastião, mas de forma devastadora. A pousada de Teston estava quase lotada -todos os carros que estavam no estacionamento naquele dia sofreram perda total.

    "A gente nunca esquece aquela enchente. Essa foi bem tranquila em comparação com a de 2014. Foi uma areia bem ralinha, não teve lama", diz o proprietário.

    Por causa da enxurrada daquele ano, o dono da Pantai e outros empresários passaram a tomar providências para evitar prejuízos maiores. Uma delas é conferir um site com a previsão das ondas, para saber se há risco de muita chuva. "Eles nunca erram."

    Em Camburi, uma funcionária de uma pousada-spa (com diária em torno de R$ 500) afirmou que todos os eletrônicos da recepção foram para lugares mais altos para não haver perdas. Dessa vez, a água subiu cerca de 50 centímetros, mas não houve grandes estragos.

    RESTAURANTES

    Na praia de Juquehy, vizinha a Camburi, Margô Dewites, 34, e o marido Ricardo Pereira de Castro, 30, donos do restaurante Nonacar, perderam dois freezers e muitos documentos em papel, como recibos e extratos de FGTS de funcionários -os documentos ficavam em pastas guardadas em um armário baixo.

    "Essa rua alaga sempre que chove um pouco mais. A gente não consegue trabalhar desse jeito. Quando chega a alta temporada e podemos lucrar um pouco mais, acontece isso", disse Margô.

    Desde 2013, esta é a sexta vez que o casal enfrenta um alagamento. "Queremos colocar um muro na entrada do restaurante e fazer um degrau para pôr os freezers no alto", conta Margô.

    Próximo dali, o funcionário de outro restaurante limpava com mangueira a calçada do local. "Isso ainda é o que sobrou de ontem. A avenida [Benedito Izidoro de Moraes] virou um rio e, depois que a água foi embora, a entrada ficou cheia de areia."

    A duas quadras do restaurante Nonacar, a escola municipal de Juquehy estava deserta. Nos fundos do colégio, o muro que fica na beira de um barranco caiu com o deslizamento de terra e invadiu uma sala de aula.

    Segundo a prefeitura, a queda da estrutura ocorreu na madrugada, quando não havia ninguém no local.

    ILHADOS

    Na avenida Copacabana, em Maresias, uma ponte que estava em construção desde outubro, segundo moradores, tombou. Do outro lado, há cerca de dez casas de veraneio. A caseira Claudia Almeida, e o marido, José Carlos Almeida, levavam as filhas de sete e nove anos para a escola a pé, já que o carro não conseguiria passar.

    O pai de Claudia, José Rocha Rodrigues, 70, ajudava na travessia da ponte caída. "Isso aqui é perigoso demais. Imagina se uma criança cai aqui." Segundo ele, desde domingo vários telefonemas foram feitos para a prefeitura, que, até esta terça, não havia enviado ninguém ao local.

    Em nota, a Prefeitura de São Sebastião não se manifestou sobre a ponte e afirmou que, neste primeiro momento, atua para "atender a população". "Nossa preocupação é retirar as pessoas que estão em lugares com riscos".

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