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    Brasileiras amamentam mais que britânicas, americanas e chinesas

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    02/03/2016 14h29

    Mães brasileiras amamentam mais do que britânicas, americanas e chinesas, aponta um estudo publicado na revista britânica "The Lancet", lançado no Brasil nesta quarta-feira (2).

    No Brasil, a taxa de amamentação exclusiva aos seis meses, prática recomendada por organizações de saúde, é o dobro de países como Estados Unidos, China e Reino Unido, segundo o estudo. O país também lidera quando observada a taxa de amamentação até o primeiro ano de vida do bebê.

    A pesquisa mostra que, em 1986, apenas 2% dos bebês brasileiros recebiam exclusivamente leite materno até os seis meses de vida. Em 2006, esse índice subiu para 39%. Para comparação, a China teve redução de 5% nesse período. Lá, a taxa de amamentação exclusiva até os seis meses é de 28%. Já nos Estados Unidos, é de 19%.

    Júlio Cordeiro - 1º.ago.2015/Agência RBS/Folhapress
    Mães amamentam seus filhos no parque da Redenção, em Porto Alegre (RS), em agosto de 2015
    Mães amamentam seus filhos no parque da Redenção, em Porto Alegre (RS), em agosto de 2015

    O estudo também mostra que 50% das crianças brasileiras são amamentadas até um ano. Para 25% delas, a amamentação segue até dois anos. "O Brasil é o país que tem maior aumento na taxa de amamentação nos últimos 30 anos. Nos Estados Unidos a taxa agora começa a aumentar um pouco. Lá, 25% [dos bebês] amamentam até um ano. Aqui é 50%", explica o professor da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas) e coordenador do estudo, Cesar Victora.

    O estudo, considerado o mais abrangente já publicado, analisou dados de 153 países. Embora a comparação entre alguns deles tenha sido divulgada, não há, contudo, um ranking feito a partir dos dados destes locais.

    "O que fizemos foi olhar os países que têm medidas de proteção de aleitamento. E o Brasil foi o único que cumpre com todos esses requisitos", diz Victora, que atribui a evolução nos índices às iniciativas adotadas nos últimos 30 anos no Brasil para estímulo à amamentação, como aumento do tempo da licença maternidade e a rede de bancos de leite materno.

    BANCOS DE LEITE

    Os dados foram apresentados em encontro na sede da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), em Brasília, em reconhecimento pelas ações do país na área.

    Hoje, o Brasil concentra 212 dos 292 bancos de leite humano existentes no mundo. O país também lidera no volume de doações –de acordo com o Ministério da Saúde, 89% da coleta de leite entre os anos de 2008 e 2014 veio de doação por mulheres brasileiras.

    No encontro, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, classificou os dados como "extraordinários". "Essas crianças [amamentadas por mais tempo] têm menos diarreia, menos pneumonia, menos infecções. E ficam mais preparadas para a vida futura", afirmou.

    Castro também cometeu novas gafes –no encontro, confundiu com frequência os bancos de leite materno referindo-se a eles como "bancos de sangue". O ministro citou ainda a importância da amamentação para estabelecer um vínculo entre mãe e bebê. E defendeu que a medida "influencia na formação do caráter".

    "Não há dúvida de que a pessoa que tem maior vínculo com a mãe tem chance maior de formar bem o seu caráter e ter vida mais harmônica, ter mais estabilidade emocional e ser física e psicologicamente mais preparada para a vida", disse.

    Segundo Victora, no entanto, não há estudos atuais que comprovem a influência da amamentação nesse quesito. "É uma hipótese, mas não há pesquisas sobre isso", afirma.

    VÍRUS DA ZIKA

    A coordenadora da unidade técnica de família, gênero e curso de vida da Opas, Haydee Padilla, lembrou que mulheres que tiveram suspeita de infecção pelo vírus da zika durante a gestação devem continuar a amamentar seus bebês.

    "Mães com suspeita de infecção pelo vírus da zika, durante a gravidez ou após o nascimento, devem receber apoio qualificado de profissionais de saúde para iniciar e manter o aleitamento materno, como todas as outras mães".

    A Opas, braço da OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Ministério da Saúde recomendam que os bebês sejam amamentados exclusivamente pelo leite materno até os seis meses. Após esse período, é indicado que a amamentação ocorra junto com outros alimentos por até dois anos ou mais.

    Dados do estudo publicado na revista "Lancet" mostram ainda que a amamentação reduz casos de diarreia e infecções respiratórias, diminuindo as internações hospitalares em 72% e 57%, respectivamente. O aleitamento também reduz risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade. Também há benefícios para a mãe, que perde peso mais rápido após o parto e ajuda o útero a recuperar seu tamanho normal, segundo a Opas.

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