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    mosquito aedes aegypti

    Brasil precisa aprender a conviver com o aedes, diz epidemiologista

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    09/03/2016 13h38

    A dengue veio para ficar. Entre outros motivos porque o mosquito Aedes aegypti, que também transmite os vírus da zika e do chikungunya, está encontrando no Brasil condições perfeitas de sobrevivência.

    "Os centros urbanos são ideias hoje para a proliferação da dengue", afirma o epidemiologista Maurício Barreto, pesquisador da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

    Para o cientista, que com um grupo de colegas acaba de escrever um artigo na revista "The Lancet" com as premissas de um plano de controle do aedes, "limpeza urbana, coleta de lixo e saneamento básico" têm muito a ver com a proliferação da dengue no país, nos últimos anos.

    Por mais chavão que possa parecer, para Barreto, professor titular do Instituto de Saúde Coletiva, "não existe solução milagrosa contra o aedes e a dengue", e, por isso mesmo, a melhor saída agora é o país aprender a conviver com a doença.

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    "O que não significa que não há nada para fazer". Para Barreto, diminuir a circulação do mosquito de uma forma generalizada é fundamental para que a incidência dos vírus transmitidos pelo aedes diminua. "É claro que o governo precisa ser ativo. Mas a população também tem que colaborar". Para o pesquisador baiano, de Itapicuru, norte da Bahia, todos precisam entrar nessa batalha. Luta que ele próprio admite "não é trivial".

    Veja, diz Barreto, até Cingapura, que é muito bem urbanizada, tem o _aedes. "Aqui mesmo, até pouco tempo atrás, Porto Alegre não tinha problema com a dengue. Mas agora passou a ter". O que só mostra, segundo o cientista, como o mosquito está cada vez mais adaptando-se aos novos ambientes. "E a questão do aquecimento global pode trazer ainda mais preocupação nesse sentido".

    Não é apenas o combate aos criadouros em si, tarefa que precisa ser feita principalmente pelo poder público mas com ajuda da população, que poderá ajudar no combate ao aedes. Para o epidemiologista, os estudos recentes que vem sendo feitos tanto no campo da criação de mosquitos transgênicos, quanto os modificados com bactérias, que também poderão, em tese, não transmitir mais a dengue e outras doenças, são superimportantes. "Tem muita gente boa aqui no Brasil, e também fora, pesquisando isso. É importante que esses estudos sejam apoiados",diz.

    Infográfico: Aedes modificado

    Apesar de a dengue ser um problema antigo, e, em meados do século passado o mosquito que transmite o vírus ter sido erradicado no Brasil, Barreto não credita a volta do problema ao insucesso das políticas públicas do setor.

    "O Brasil e as cidades eram outras. Nós fizemos um plano de combate à doença nos anos 1990 que não foi implementado na sua íntegra. Mas não dá para saber se ele realmente teria controlado mais a doença. É um problema muito complexo".

    Para Barreto, a dengue também só voltou a ter muita evidência agora, por causa da aparição da zika e da chikungunya. No caso da primeira, suspeita também de aumentar os casos de microcefalias graves em crianças que ainda estão no útero das mães. "Muito provavelmente, pode existir um outro fator associado, como infecções pregressas, ao zika" suspeita o cientista, para quem a doença é bastante grave.

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