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    Evitamos uma nova tragédia de Mariana, diz presidente da Sabesp

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    11/03/2016 14h02

    O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, disse à Folha que, após as chuvas sobre a Grande SP, a empresa paulista de saneamento teve que agir para garantir a segurança da barragem da represa Paiva Castro, em Mairiporã.

    A ideia era "evitar Mariana", em referência ao rompimento de barragem na cidade mineira, no final do ano passado, em que um mar de lama matou 19 pessoas. A represa representa 6% do sistema Cantareira e é a mais próxima da Grande São Paulo.

    Com as chuvas da última noite, a represa encheu muito rapidamente e, por volta das 6h40, as comportas foram abertas pela Sabesp para evitar que a barragem se rompesse.

    Represa Paiva Castro

    VOLUME

    Para se ter uma ideia, das 18h de quinta até as 6h desta sexta, a represa recebeu 125 mil litros de água por segundo, devido às chuvas. O pico foi à 1h, quando o fluxo de entrada de água na represa chegou aos 239 mil litros por segundo. Para efeito de comparação, isso é quatro vezes o volume de água consumido pela Grande São Paulo.

    Com a represa cheia, as comportas tiveram que ser abertas. A Sabesp passou a liberar água ao ritmo de 20 mil litros por segundo, em média (o pico do escoamento foi por volta das 13h de sexta, quando a empresa liberou 50 mil litros por segundo). A água escoou em direção às cidades de Franco da Rocha e Caieiras, que já sofriam com enchentes.

    A represa funcionou como uma esponja e absorveu 5 bilhões de litros da água.

    Antes das chuvas, a represa Paiva Castro tinha 35% de sua capacidade. Mas, às 7h da manhã, o índice da represa chegou a 99,4%.

    "Há um protocolo de ação. Avisa-se a Defesa Civil e o prefeito (...) e depois, caso a represa continue enchendo, abre-se as comportas (...) Não queríamos outra Mariana (MG) em São Paulo", afirmou Kelman. Caso a água das chuvas vazasse por cima da barragem, haveria risco de seu total rompimento. A partir daí, 7,5 bilhões de litros de água escoariam sem controle serra abaixo.

    A efeito de comparação, no último dia 5 de novembro, o rompimento da barragem de Mariana liberou cerca de 35 bilhões de litros de lama.

    Mas diferentemente do que ocorreu em Minas Gerais, Kelman disse que a barragem da Sabesp não chegou a estar sob risco e que o protocolo de ação da estatal funcionou.

    Kelman, que é especialista em hidrologia e controle de enchentes, afirma que, se não fosse pela represa, o efeito das enchentes sobre as cidades de Franco da Rocha e Caieiras seriam muito maiores.

    Como acontecem os deslizamentos

    ALAGADOS

    O prefeito de Franco da Rocha, Kiko Celeguim (PT), no entanto, não concorda com a visão de que a represa "salva" a cidade.

    Para ele, a cidade permaneceu alagada durante toda a sexta-feira devido à abertura das comportas.

    Ao contrário do que informou Kelman, o prefeito de Franco da Rocha alega que só soube da abertura das comportas por volta das 9h de sexta, duas horas após o início da manobra.

    "Deveria ter um investimento de reservatórios [piscinões] para que em momentos como esse a gente tenha uma capacidade de resiliência maior. E esse investimento é impossível que a prefeitura financie."

    Há na cidade um contrato de construção de dois piscinões (com verba estadual e federal), mas a gestão local só conseguiu a desapropriação dos terrenos no último semestre de 2015.

    Chuva em SP

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