• Cotidiano

    Wednesday, 08-May-2024 01:37:17 -03

    Rapaz cava com as mãos, mas irmã só é resgatada após ter o pé amputado

    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    13/03/2016 02h00

    Artur Rodrigues/Folhapress
    Danilo nascimento, morador de Franco da Rocha. Foto: Artur Rodrigues/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Danilo Costa do Nascimento, 22, irmão de Ana Clara, 5, que teve o pé esquerdo amputado

    Em meio aos escombros de uma casa totalmente destruída por um deslizamento de terra, o pé esquerdo de Ana Clara do Nascimento, 5, permanecia ali, no fim da tarde deste sábado (12), após ter sido amputado no dia anterior, para que a menina pudesse, finalmente, ser resgatada.

    Na casa em que garota estava no Jardim Alegria, em Francisco Morato, região metropolitana, seis familiares conseguiram escapar com ferimentos leves. Ana Clara não teve a mesma sorte: ficou presa por nove horas até perder o pé antes de ser salva.

    Neste sábado (12), a reportagem encontrou o irmão da menina, Danilo Costa do Nascimento, 22, trabalhando ainda na retirada dos escombros. Sobre a tragédia, lembra o rapaz: "Estava em casa, me trocando, quando escutei um barulho. Era tudo vindo abaixo. Caí com o ombro no chão, mas consegui sair correndo".

    A tragédia vista do alto

    Naquele instante, desesperado, Nascimento começou a gritar: "Clarinha, Clarinha". O irmão da garota recorda-se que chegou a ouvi-la. "Dé, Dé. Tô aqui'", ela respondeu. Nas palavras do irmão, foi aí que "bateu um desespero". "Comecei a cavar com as próprias mãos", recorda-se.

    De lâmpadas em punhos, vizinhos apareceram para socorrê-lo -moradores reclamam que não receberam assistência do poder público.

    Nível de chuva por cidade - das 16h do dia 10 às 16h do dia 11 de março

    Chuva em SP

    Como acontecem os deslizamentos

    'ELA NÃO PODIA DORMIR'

    Segundo Nascimento, a irmã teve sorte porque havia um colchão que abria espaço para que o ar entrasse. "Ela estava, até a cabeça, coberta de terra", conta. A partir daí, o irmão passou a conversar com a irmã por cerca de três horas. "Para ela não dormir."

    Os bombeiros, segundo relata, permaneceram lá, das 3h às 9h, tentando resgatá-la. Chamaram pelo pai, que até então não havia chegado ao local da tragédia. "Tomaram a decisão de amputar o pé dela com medo de hipotermia."

    O helicóptero Águia aterrizou. Antes de a levarem para o Hospital das Clínicas, sedaram Ana Clara e cortaram o pezinho dela. Nascimento finaliza: "Saí de perto porque não queria ver aquela cena!".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024