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Cotidiano
Tuesday, 07-May-2024 23:44:00 -03Lojista pega empréstimo, compra alimentos e perde tudo na enchente
LEANDRO MACHADO
GUILHERME BRENDLER
DE SÃO PAULO14/03/2016 17h09
Literalmente ou não, a comerciante Rose Souza, 49, ainda está na lama. A água da enchente de sexta (11) na Grande SP levou sua lanchonete e único ganha-pão. No total, 25 pessoas morreram. em decorrência das chuvas –o último corpo foi encontrado na madrugada desta segunda-feira (14).
Três dias após a chuva, Rose ainda tirava a lama da lojinha na beira de uma estrada de Caieiras. A água só abaixou no domingo. "No ano passado, o governo pediu para economizarmos água", conta. "Depois, apertaram um botão e despejaram essa água toda na nossa cabeça. Nem se deram o trabalho de avisar", diz.
Na noite da chuva, a Sabesp, companhia de saneamento de SP, abriu as comportas de uma represa do sistema Cantareira que subiu de 35% para 99% da capacidade. A Sabesp diz que avisou a Defesa Civil de madrugada e "evitou uma tragédia, pois a barragem corria risco de se romper. Parte da água do reservatório inundou o jardim São Francisco, que fica numa espécie de vale em Caieiras.
Tragédia por tragédia, Rose lamenta a sua. Naquele dia, havia obtido empréstimo de R$ 5.000 no Banco do Povo para abastecer a despensa do restaurante, única fonte de renda da família. Comprou bebida, carne, frango e outros itens. A água levou tudo.
Naquele dia, havia conseguido um empréstimo de R$ 5.000 no Banco do Povo para reabastecer a despensa do restaurante, única fonte de renda da família.
Com o empréstimo, comprou ingredientes, carnes, frango e bebidas. Tudo isso a água também levou.
"No ano passado, o governo pediu para economizarmos água", conta. "Depois, apertaram um botão e despejaram essa água toda na nossa cabeça. Nem se deram o trabalho de avisar. Daria tempo de salvar minha lanchonete. Perdi tudo", diz.
Sem quase nada ficou a loja de Richele Coutinho, 30. O estabelecimento, que constrói calhas, virou um aquário de água barrenta. A água chegou ao segundo andar e estragou computadores, máquinas, ferramentas e quatro carros. Prejuízo: R$ 100 mil.
"As enchentes aqui são normais. Não do jeito que foi dessa vez. Poderiam ter avisado com uma sirene. Em poucos minutos eu conseguiria salvar muita coisa". No bairro, o velódromo também foi atingido: algumas bicicletas ficaram embaixo d'água e estragaram, segundo funcionários que limpavam o local.
Perto dali, um galpão da prefeitura virou um piscinão. No sábado, ele seria usado para uma formatura de estudantes do município. "Estava todo enfeitado. Perdemos a decoração, comida, freezers, mesas, computadores, tudo", lamenta Miguel Chavez, 43, gerente da empresa de que organizava o evento, cancelado.
'PISANDO NO AR'
Na vizinha Franco da Rocha, o cenário não era diferente. Gilberto Andrade, 37, trabalhava para recuperar a Chevrolet Ipanema 1991 que ele e o irmão utilizam. "Estamos pagando [o carro] ainda", disse ele, que vive de bicos e usa o veículo para levar ferramentas. "O motor está cheio de água. Os bancos eu deixei secando no sol."
O vigilante Dario Ortiz, 45, perdeu quase tudo em casa: móveis, colchões, eletrodomésticos. Também está tentando salvar o carro. A Câmara da cidade teve uma segunda atípica. Uma força-tarefa foi organizada para limpar o lugar. Na entrada, impressoras, microondas, dois fogões, extintores de incêndio e muito papel. Tudo perdido. Documentos foram colocados no sol para secar.
No hospital Professor André Teixeira Lima, que atende presidiários, o prejuízo também foi grande. Na sexta, os 620 pacientes foram transferidos para outros locais antes de serem abertas as comportas da represa. O, o local foi inundado até o telhado.
A escola Benedito Fagundes Marques também recebeu um mutirão de voluntários para tirar a água e a lama das salas de aula. A escola perdeu apostilas, documentos, histórico de alunos, só restaram os computadores. As aulas só voltam na quarta. Outras duas escolas da cidade ainda não têm previsão de reabrir as portas.
Nível de chuva por cidade - das 16h do dia 10 às 16h do dia 11 de março
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