A guerra de versões em torno do episódio em que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se desentendeu com a equipe médica do hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, zona oeste, ganhou mais um capítulo.
O livro de ocorrências do hospital contradiz a versão do prefeito.
No último domingo (13), Paes e sua mulher estiveram no hospital para buscar atendimento para seu filho de 11 anos, que sofreu um acidente durante uma partida de hóquei. A criança foi levada ao hospital público após a família tentar uma unidade particular, que estaria cheia.
O prefeito disse que ouviu de pacientes críticas quanto à postura da equipe de médicos e funcionários do hospital municipal e condenou a suposta má conduta dos profissionais da unidade.
O Sindmed-RJ (Sindicato dos Médicos do Rio) apresentou versão diferente: Paes teria sido grosseiro com a equipe de plantão por seu filho não ter recebido tratamento prioritário.
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| Livro de ocorrências que narra a repreensão do prefeito Eduardo Paes a médica de hospital |
GROSSEIRO
O livro de ocorrências– registro oficial do hospital, preenchido pelo chefe do plantão– contradiz a primeira versão. A página 25 registra que a equipe teve "um momento de indisposição com o prefeito", que foi "bastante grosseiro" com os funcionários.
O documento foi enviado à Folha pelo presidente do Sindmed-RJ, Jorge Darze. Sua autenticidade foi confirmada por dois funcionários com cargo de chefia no Lourenço Jorge.
Paes teria começado a gritar quando foi solicitado à sua mulher que preenchesse a ficha de atendimento, algo de praxe em hospitais públicos. Ele teria discutido com a médica plantonista Camila Motta, 30, que trabalha há seis anos no hospital.
O sindicato disse que entrará com uma ação contra o prefeito na Justiça do Trabalho, por assédio moral da médica
"[Ele] Disse que a médica não sabia fazer atendimento– e que ele agora não estava falando como cidadão e sim como prefeito, seu patrão– e a demitiu, registra o hospital.
O livro registra que a funcionária "exerce e sempre exerceu seu papel de excelente médica". Paes teria dito, ao fim do desentendimento, que a funcionária "não irá trabalhar mais em nenhuma unidade do município do Rio".
A médica foi instruída a tirar uma semana de folga. Até terça (15), sua demissão não estava confirmada.
DOIS LADOS
A prefeitura disse, em nota, que o livro representa "a versão da médica do ocorrido" e lamentou o que considerou como uma tentativa do sindicato de "explorar politicamente o episódio".
A médica, por meio de nota enviada por seu advogado, diz que cumpriu com as normas de atendimento da Secretaria Municipal de Saúde, sem distinções.
"A assistência médica transcorreu dentro da normalidade e sem demora. Lamento pelo comportamento intempestivo do senhor prefeito e penso que as suas declarações de descontentamento conforme alardeadas pela imprensa são consequentes da tensão do momento em que todo pai se submete em situações de dor a que um filho venha a sofrer", disse.
REDES SOCIAIS
Em seu perfil no Facebook, que é público, a médica já fez críticas ao prefeito e a pacientes que considerou desrespeitosos em postagens de 2013.
"Eduardo Paes aprovou o aumento da passagem para R$ 3,00...por que ele não aprova meu aumento de salário também? Deveria ganhar o salário do Neymar para aguentar tanta apurrinhação (sic)!!!! #revoltada", escreveu em janeiro de 2013.
"Odeio falta de respeito!!! Sinceramente, tem paciente que MERECE ser atendido por esses médicos cubanos que cometem várias iatrogenias [erro médico]...#prontofalei", escreveu em novembro de 2013.
Questionado especificamente sobre as postagens, o advogado da médica disse que elas "são antigas e não refletem o perfil profissional da médica".