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    Ministério e maioria dos Estados não sabe quais tipos de dengue circulam

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    18/03/2016 02h00

    Em meio ao avanço da dengue, o Ministério da Saúde e a maioria dos Estados desconhecem os sorotipos da doença em circulação na maior parte do país. O mais recente boletim do governo federal sobre a doença aponta que, até 6 de fevereiro, 18 Estados e o Distrito Federal não haviam enviado informações sobre os subtipos do vírus.

    Esse dado é importante tanto para quem já teve dengue se tratar como para que os governos definam políticas públicas de combate à doença.

    Na primeira vez que uma pessoa é contaminada, fica imune àquele tipo, mas não aos demais. A cada infecção por um subtipo diferente, o risco de desenvolver formas mais graves, como a hemorrágica, aumenta em 12 vezes, explica o infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses.

    TIPO 1

    O Ministério da Saúde afirma que o envio dos dados dos Estados à União não é obrigatório, mas importante para que se saiba a abrangência dos sorotipos. Os únicos oito Estados que transmitem a informação são: Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e São Paulo.

    Nesses locais, o tipo 1 de dengue é o predominante, segundo o Ministério da Saúde. Das 145 amostras de isolamento viral consideradas positivas, 141 são desse tipo. O dado está longe do total de casos –segundo o Ministério da Saúde, o país registrou em janeiro 170 mil casos "prováveis" de dengue.

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    Das unidades da federação que não enviam o dado, oito disseram à Folha não terem registros –ou porque não houve análise ou porque ainda não receberam resultados.

    Alegam terem priorizado casos de zika, que vêm sendo associados à microcefalia, ou não terem estrutura nos municípios para o exame, que é mais sofisticado.

    Cinco Estados informaram os dados à reportagem. Segundo eles, também o tipo 1 da doença prevalece.

    Em 2015, das 9.429 amostras enviadas pelos Estados consideradas positivas, 94,1% eram do tipo 1 e 4,8%, do 4.

    "A sorotipagem é importante, pois a dengue segue sendo a mais letal das doenças transmitidas pelo mosquito", afirma Rodolfo Telarolli, docente de saúde pública da Unesp Araraquara.

    Em 2015, o país registrou o óbito de 863 pessoas em decorrência da dengue.

    Outros fatores citados como críticos para o combate à doença são os cortes de investimentos em 2015 e diagnóstico deficiente. "A falta de kits é seríssima, leva ao diagnóstico clínico e expõe a fragilidade da atenção às doenças. É preciso saber se é dengue mesmo, zika ou chikungunya. E, se for dengue, que sorotipo é", diz Timerman.

    Em São Paulo, 98% dos casos de 2015 eram do sorotipo 1 e a tendência se mantém neste ano, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde.

    TIPOS DE DENGUE - Maioria dos Estados desconhece sorotipos de casos da doença

    A MESMA PESSOA PODE TER DENGUE ATÉ 4 VEZES

    Qual a diferença entre os quatro tipos de vírus?

    Eles diferem na genética, mas provocam os mesmos sintomas. Estudos apontam que o tipo 2 seria mais agressivo.

    Se a pessoa for contaminada por um dos tipos, ela pegará o mesmo novamente?

    Não. Cada indivíduo só pode ser contaminado uma vez por cada tipo.

    Algo muda se o paciente for reincidente?

    Sim. A chance de contrair dengue hemorrágica, mais grave, cresce dez vezes. Da 2ª para a 3ª vez, essa chance dobra.

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