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    Agnelli conduziu a Vale ao topo durante o boom de commodities

    DE SÃO PAULO

    19/03/2016 21h31

    Roger Agnelli, 56, ex-presidente da Vale, morreu neste sábado (19) após seu avião cair e se chocar contra uma casa na zona norte de São Paulo —mais seis pessoas morreram no acidente.

    Agnelli presidiu a Vale entre 2001 e 2011 e era considerado responsável pela ascensão da empresa ao posto de uma das maiores mineradoras do mundo.

    Em nota divulgada neste domingo (20), a empresa lamenta a morte do executivo e se solidariza com a dor dos familiares e amigos. O texto acrescenta que durante os dez anos em que ele foi presidente, "a companhia se consolidou como a maior produtora global de minério de ferro e a segunda maior mineradora do mundo."

    "Foi durante sua gestão que a Vale intensificou sua estratégia de expansão global, que levou a Vale a um novo patamar no mercado global de mineração."

    O paulistano Agnelli fez carreira no Bradesco, onde trabalhou por três décadas, entre 1981 e 2001. Formado em economia pela Faap, transformou-se em um dos principais executivos do banco, chegando ao posto de diretor-executivo.

    Ocupou também o cargo de diretor-presidente da Bradespar, empresa de participações da instituição.

    Como um dos acionistas da Vale, o Bradesco indicou Agnelli em 2001 para o comando da ex-estatal, que, na época, ainda tinha o Rio Doce no nome e tentava se modernizar e se expandir.

    Durante a década em que presidiu a Vale, Agnelli adotou uma estratégia agressiva para ganhar mercado no Brasil e no exterior. Foi beneficiado pela demanda chinesa por commodities e soube tirar proveito da situação, adotando uma política agressiva de preços.

    Agnelli liderou a compra de concorrentes no Brasil e no exterior, como a canadense Inco, e entrou em novos mercados, como o de ferrovias, níquel e petroquímica.

    Entre 2001 e 2011, o lucro líquido da Vale saltou de US$ 1,3 bilhão para US$ 22,9 bilhões e as ações da empresa subiram cerca de 1.500%. A empresa galgou degraus na lista de grandes companhias globais e se tornou a maior produtora global de minério de ferro e a segunda maior mineradora do mundo.

    Admirado por seu traquejo e faro empresariais, Agnelli era considerado menos hábil politicamente.

    Na Vale, ganhou fama de tomar decisões importantes sem consultar os acionistas, entre os quais, além do Bradesco, estão a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e o BNDES.

    O perfil arrojado o colocou em rota de choque com o governo federal e acabou lhe custando o cargo.

    LULA

    A boa relação entre Agnelli e Lula começou a azedar em dezembro de 2008, quando o diretor-presidente da Vale resolveu demitir 1.200 funcionários por causa da crise financeira global. A decisão desagradou ao Palácio do Planalto. A situação piorou, em seguida, por causa de medidas como congelamento de investimentos.

    A política econômica de Lula, naquele momento, ia em rota contrária: a ordem era aumentar gastos para frear os efeitos da crise.

    No fim de 2010, a situação já tinha se tornado insustentável e, em maio de 2011, Agnelli perdeu o cargo para Murilo Ferreira, também indicado pelo Bradesco.

    Nas poucas entrevistas que concedeu após deixar o cargo, Agnelli afirmou que havia ganhado qualidade de vida após deixar o comando da Vale, podendo passar mais tempo com sua família.

    Em 2012, mais de um ano fora da Vale, Agnelli foi eleito pela "Harvard Business Review" como o quarto CEO com melhor desempenho no mundo. No mesmo ano, o executivo fundou a AGN, empresa com negócios nas áreas de mineração, bioenergia e logística.

    Tinha um grande entusiasmo por seus projetos, além de talento para formar equipe, analisar dados e tomar decisões, de acordo com pessoas que trabalharam com ele. Era um chefe exigente e temido, mas ao mesmo tempo muito acessível, segundo relatos.

    Fernando Thompson, que foi diretor de comunicação da Vale durante quase uma década, afirma que o executivo tinha uma grande intuição. Em certas ocasiões, diante de planilhas, ele acendia um charuto, olhava para o teto e tomava uma decisão.

    Pessoas próximas de Agnelli contam que ele dizia com frequência que no dia em que morresse gostaria que sua última visão fosse o rosto de Andrea Agnelli, sua mulher.
    Ele tinha dois filhos, Ana Carolina e João.

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