Circula pela internet um meme ridicularizando a velha revolta dos consumidores com a disparidade entre os preços dos ovos e das barras de chocolate. Essa imagem apresenta uma série de barras de aço ao lado de um carro com a seguinte mensagem: não compre um carro, compre as barras e faça em casa.

Em que pese o apuro técnico —um pouco mais necessário na hora de transformar aço em carro do que para transformar chocolate em ovo-, o meme recorda que o preço de custo de um produto tem pouco a ver com seu preço de venda.

Os fabricantes dão várias justificativas para a disparidade. Algumas delas fazem sentido: é mais caro transportar ovos, são uma mercadoria mais frágil, com mais perda, mais embalagem e que precisa ser vendida num prazo relativamente curto.

"Mas nada justifica uma variação tão grande, só a disposição do consumidor em pagar mais", afirma a consultora financeira Carolina Ruhman. Ela lembra que outros produtos típicos da data também sofrem aumento de preço, como o bacalhau.

	Adriano Vizoni/Folhapress
	Jacqueline, 45, e seu filho José, 18, recorreram a ovos feitos em casa para escapar da crise

Ruhman dá a dica do bom senso que muitas famílias vêm seguindo empiricamente nessa Páscoa da crise: reservar o privilégio dos ovos às crianças, fazer versões caseiras, amigos secretos familiares ou substituir os ovos por outras sobremesas com chocolate, por exemplo.

"Parcelar ovo de Páscoa é furada. Além de ser um item de consumo imediato, não é prudente ficar parcelando as coisas em um cenário de escalada do desemprego", diz a consultora financeira.

A professora de física Jacqueline Puerta, 45, e seu filho José Guilherme, 18, recorreram aos ovos caseiros. Eles queriam presentear pelo menos as dez crianças da família. Mesmo com as promoções por causa da queda nas vendas, isso custaria cerca de R$ 300 caso optassem por ovos de supermercado.

"Com pouco mais da metade desse dinheiro, fizemos ovos para todas as crianças e ainda fiz uns menores para os adultos", conta Puerta.

Sem experiência com ovos caseiros, ela pegou uma receita na internet.

Já o arquiteto Manuel Dias, 38, não teve paciência para produções artesanais. "A Páscoa deste ano vai ter bacalhau e uma musse de chocolate para todo mundo", afirma.

Em anos de vacas mais gordas, Manuel Dias costumava comprar ovos às dúzias para promover caças ao tesouro com os sobrinhos. Para o arquiteto, crise não acarreta numa Páscoa triste ou em crianças traumatizadas.

"Depende de como os adultos tratam o assunto. Na minha família, fazemos piada, as crianças entendem e dão risada junto, como fazíamos na era negra da inflação, quando minha mãe inventava até gincana no mercado para terminarmos as compras logo, 'antes que os preços subissem'. Era uma corrida contra a maquininha que reajustava os valores", conta.

Mesmo fora do período da Páscoa, um pouco de bom humor e criatividade serão de bom uso aos viciados em doces. O chocolate, afinal, foi um dos itens que sofreram aumento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) recentemente. O aumento entra em vigor em maio.