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    Gripe e falta de médico levam caos a hospitais públicos e privados de SP

    EDUARDO GERAQUE
    GIBA BERGAMIM JR
    JAIRO MARQUES
    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO

    28/03/2016 02h00

    Com ou sem plano de saúde, pais e mães de São Paulo têm sofrido para conseguir atendimento médico para seus filhos em meio a um surto fora de época da gripe H1N1.

    Tanto em unidades da rede privada como na pública, não há pediatras o suficiente, e o resultado disso tem sido prontos-socorros superlotados e espera de até cinco horas horas para o atendimento.

    O surto ocorre dois meses antes do previsto, e a vacinação contra o vírus influenza no Estado está marcada somente para o final de abril.

    Neste final de semana, a reportagem da Folha percorreu hospitais privados da zona oeste e sul e públicos da zona leste da capital. Em geral, na dúvida diante de sintomas de gripe, como tosse, nariz escorrendo e febre, os pais já correm para os prontos-socorros.

    Quando se deparam com fila de espera de mais de duas horas, como ocorreu nos privados Sabará e Samaritano, alguns até desistem do atendimento e voltam para casa.

    Na última semana, a espera no pronto-socorro virou a rotina da assistente jurídica Fernanda Braga, 31. Ela levou o filho Samuel, 2, quatro vezes ao Hospital São Camilo. O quadro gripal, com febre e vômitos, não passava.

    "Fiquei preocupada porque há muito tempo não ouvia falar de H1N1. Em casa está todo mundo gripado", disse, na noite de sábado, enquanto esperava notícias sobre o filho —os exames descartavam a gripe aguda.

    No também particular Samaritano, a fila de espera, que tem ultrapassado as quatro horas nos finais de semana, às 21h deste sábado estava em "só" uma hora e meia.

    Nathali Muzzi, 22, era uma das que esperava, diante da febre e tosse persistentes de Helena, de um ano e dois meses. "Faz quatro dias que ela não está bem e decidimos trazer. A gente fica preocupado com esse surto de gripe."

    Na porta do hospital, banners informam sobre a realização do exame de detecção da gripe e indicam maneiras de evitar o contágio.

    Já no Santa Catarina, na avenida Paulista, faixas também informavam sobre a "etiqueta da tosse ou espirro" para evitar a disseminação.

    Lá, na triagem, os médicos têm distribuído máscaras para quem não se sente bem.

    Gripe h1n1 - Notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao H1N1

    A advogada Mara de Souza, 42, correu para o pronto-socorro quando a febre de Thiago, 7, bateu nos 40°C. "Ainda bem que era só uma virose", disse a mãe, aliviada.

    No sábado, a reportagem encontrou gente que, para fugir da fila, correu do Sabará para o Samaritano e do Samaritano para o Sabará. No Sabará, a fila de espera na ala infantil era de três horas e meia.

    "Tem mais de 100 números na minha frente", gritava uma mãe ao celular. Ali, nem a mesa de desenhos ou o painel com bichinhos eram suficientes para passar o tempo.

    Já na rede pública, pais têm feito peregrinação em busca de pediatras. Quando não se deparam com a falta desses profissionais, enfrentam filas de até duas horas só para preencher uma ficha.

    Já para ficar frente a frente com um médico, são até cinco horas de espera. Em Itaquera, não havia pediatras no Hospital Municipal Waldomiro de Paula, conhecido como Planalto, e na AMA de mesmo nome durante a tarde, pelo menos até as 19h.

    "Não tem pediatra desde cedo. Minha filha está aqui vomitando e com febre", disse o auxiliar de limpeza Acácio do Nascimento, 28, que levou a filha Nataly, 8, ao Planalto. A previsão era para que às 19h haveria um pediatra. Porém, até as 20h, não havia.

    Em Cidade Tiradentes, também na zona leste, não havia especialistas no pronto-atendimento Glória e na AMA Castro Alves. Os dois pediatras disponíveis no bairro atendiam no hospital municipal. Muitas recorreram ao bairro vizinho, Guaianases, cujo hospital geral, do Estado, estava superlotado. Só havia dois pediatras ali. Mais horas na fila.

    Peregrinação pelos PS's de São Paulo

    OUTRO LADO

    A gestão Fernando Haddad (PT) nega falta de médicos e diz que, nesta época do ano, a demanda cresce por causa de doenças respiratórias e que prioriza os casos de suspeitas da gripe H1N1.

    A prefeitura informou que os hospitais Waldomiro de Paula, Tide Setúbal e Cidade Tiradentes tinham, respectivamente, um, três e quatro pediatras no sábado (26), sendo que neste último 534 crianças foram atendidas.

    A prefeitura diz que já realizou concurso público para contratação de pediatras e que há um novo concurso em andamento para chamar mais profissionais.

    Já a administração Geraldo Alckmin (PSDB) diz que o quadro do Hospital Geral de Guaianases estava completo, inclusive com dois pediatras, neste sábado.

    Segundo o governo estadual, a falta de pediatras na rede municipal culminou numa crescente demanda pela especialidade no pronto-socorro da unidade.

    O hospital Samaritano informou que há aumento na demanda em seu pronto-socorro infantil devido à dengue e à antecipação de H1N1 e que está com uma equipe de profissionais 20% maior para atender o público.

    Segundo a instituição, casos graves são atendidos com prioridade, e a espera por atendimento pode ser checada pelo usuário, em tempo real, por meio de seu site.

    Já o hospital Santa Catarina informou que tem registrado crescimento nos atendimentos de casos suspeitos de gripe H1N1 e que, neste domingo (27), quatro pediatras estavam disponíveis para o público.

    O hospital São Camilo declarou que não conseguiria dar uma resposta à reportagem durante o final de semana. Procurado, o Sabará não respondeu ao pedido de informação do jornal.

    Virus H1N1

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