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    Maioria dos mortos por vírus no país não é foco de campanha de vacinação

    CLÁUDIA COLLUCCI
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO
    SIMONE MACHADO
    DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

    03/04/2016 02h00

    Com dores na garganta e no corpo, o construtor José Carlos Andriatti, 48, procurou um hospital particular e foi diagnosticado com faringite. Três dias depois, como não melhorava, voltou ao pronto-socorro.

    "Dessa vez os médicos desconfiaram que seria gripe H1N1 e ele foi internado no isolamento", diz sua mulher, Gisele, 44. Em cinco dias, ele morreu de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), uma complicação da gripe.

    Casos como o de José Carlos acendem o alerta em relação aos óbitos por SRAG. A campanha de vacinação na rede pública é voltada especialmente para pessoas com mais de 60 anos, mas a maioria dos mortos pela gripe tinha idade inferior.

    Também gera preocupação o fato de que a gravidade da doença não tem sido percebida a tempo pelos médicos.

    É o que conta a família do pedreiro Daniel da Silva, 51, que morreu em março deste ano em um hospital público.

    "O médico disse que era só uma dor de garganta e ele ficou tomando anti-inflamatório por cinco dias", diz a filha Daniela Silva Tasso, 28.

    Somente depois de procurar atendimento médico pela segunda vez é que Silva foi diagnosticado com H1N1. "Meu pai tinha uma saúde de ferro", afirma Daniela.

    Ilustração Leonardo Gibran
    Ilustração sobre gripe H1N1

    Para o infectologista Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde, a demora na identificação da gripe é um dos principais problemas em relação ao surto. Segundo ele, a doença tem sido confundida com dengue.

    Em 2016, até 29 de março, 59 pessoas morreram pelo vírus influenza no Estado (sendo 55 por H1N1), que responde por mais de 80% dos óbitos por gripe no país.

    Embora 75% dos mortos tivessem algum fator de risco (como hipertensão, diabetes e obesidade) e direito à vacinação gratuita, a maioria não tinha sido vacinada em 2015.

    "Independentemente da idade, recomendamos a vacinação aos doentes crônicos, mas muitos hipertensos ou diabéticos controlados não se consideram doentes e não se vacinam", diz Boulos.

    A pediatra Lúcia Bricks, diretora médica da Sanofi Pasteur, fabricante da vacina, diz que muitas pessoas nem sabem que pertencem ao chamado grupo de risco.

    "Muitas vezes, o quadro gripal se complica porque a pessoa tem uma doença cardíaca ou pulmonar prévia, mas não sabia disso."

    Para a médica, o fato de muitos casos graves atingirem adultos jovens é outro item que merece atenção.

    MEDICAÇÃO

    Uma preocupação dos governos é que o antiviral oseltamivir (Tamiflu), indicado para combater a infecção provocada pelo H1N1, não está sendo usado da forma certa.

    O ideal é que o medicamento seja introduzido em até 48 horas depois do aparecimento dos sintomas. No caso das pessoas que morreram, segundo o Ministério da Saúde, o antiviral foi administrado, em média, seis dias após os primeiros sintomas.

    "Se o quadro for grave, com febre, tosse seca e prostração, nem precisa esperar o exame para medicar", diz Celso Granato.

    Para a diretora da Sanofi Pasteur, seis dias é muito tempo. "As primeiras 48 horas são fundamentais. Depois disso, o vírus já pode ter feito muitos estragos."

    CASOS NO BRASIL - Notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao H1N1, até 22.mar*

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