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    Alckmin sanciona lei que dá nome de cafetina famosa a viaduto em Bauru

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    12/04/2016 16h58

    Uma das cafetinas mais famosas do país, Emy Cezarino (1917-1987), conhecida como Eny, agora batiza um viaduto em Bauru, cidade em que viveu e onde trabalhou num bordel entre as décadas de 1940 e 1980.

    A Casa de Eny chegou a reunir 30 garotas de programa em seu auge e atraía políticos, fazendeiros, empresários e artistas.

    Uma lei sancionada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez com que o viaduto no km 237,5 da rodovia João Baptista Cabral Rennó (SP-225) fosse chamado de Emy Cezarino - Eny. O projeto é do deputado Pedro Tobias (PSDB), presidente do diretório estadual do partido e que tem base eleitoral na região de Bauru.

    Eny, nascida na capital, fugiu de casa e virou garota de programa no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, antes de chegar a Bauru.

    Ela era uma das prostitutas de uma pensão até 1947, quando assumiu o local. A entrada da cafetina no negócio transformou nas décadas seguintes o mundo da prostituição, ao elevar o padrão de qualidade do ramo e a tornar o bordel conhecido nacionalmente.

    PROCESSO DE SELEÇÃO

    As garotas de programa, por exemplo, passavam por um rigoroso processo de seleção, e a casa, para a época, era muito luxuosa. Ficava em uma área de 12 mil metros quadrados e tinha 40 quartos, piscina, sauna, bar e restaurante.

    Diferentemente de hoje, no entanto, não possuía banheiro em todos os quartos. Costume da época, segundo o historiador Henrique Perazzi de Aquino. De acordo com ele, Eny tinha um forte magnetismo e atraía as pessoas pela curiosidade sobre o mundo da prostituição e pela benemerência, além do que chama de aspecto "marginal" da cafetina.

    "Ela não tinha só o lado lúdico como cafetina, mas também um lado marginal. Abrigava coisas irregulares, como figurões que queriam sair com menores. A atividade dela foi polêmica", disse.

    Poderosa e influente, Eny também bancava escolas, entidades sociais e creches de Bauru, o que a tornou uma figura ainda mais enigmática. "Criou muita gente órfã, abandonada, por causa da casa dela. O trabalho social dela foi anônimo. No outro [bordel], chegava ministro, presidente da Petrobras e fechavam a casa [para festas privadas]", disse o deputado Tobias.

    Para ele, a homenagem é merecida porque Eny foi uma "grande mulher que ajudava as pessoas que mais necessitavam". O deputado, que afirmou ter frequentado o local quando jovem e solteiro, disse que o objetivo foi também o de preservar a história.

    "Ela montou uma casa moderna, de luxo, exigia exames de sangue das moças. Quando chegava menina na casa, dava orientações, aulas. [As prostitutas] Eram saudáveis, discretas." Ele disse que não recebeu nenhuma reclamação em relação à homenagem.

    LITERATURA

    Eny e o Grande Bordel Brasileiro
    Lucius de Mello
    l
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    Além de ser homenageada com o nome no viaduto, a vida da cafetina foi contada no livro "Eny e o Grande Bordel Brasileiro" (editora Planeta), do jornalista Lucius de Mello.

    No livro, conta-se que o local recebeu muitas visitas ilustres, como as de Jânio Quadros (1917-1992), João Goulart (1919-1976), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Sérgio Reis, entre outras.

    O casarão, hoje deteriorado, e o letreiro que convida os clientes para o "Restaurante Eny's Bar" ainda estão lá, no mesmo local, no trevo de entrada da cidade, quase 30 anos após a morte da cafetina.

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