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    Diferentes tipos de vacinas infantis 'somem' de clínicas privadas de SP

    EMILIO SANT'ANNA
    DE SÃO PAULO

    14/04/2016 02h02

    Encontrar a vacina contra a gripe H1N1 disponível nas clínicas privadas de São Paulo está longe de ser o único desafio para os pais que tentam imunizar seus filhos. Indicadas pelos pediatras, a hexavalente acelular, a pentavalente acelular e a meningocócica B também sumiram do mercado desde o final do ano passado.

    A hexavalente acelular protege contra difteria, tétano, coqueluche, poliomielite, hepatite B e as doenças causadas pelo Haemoplilus influenzae tipo B, como a meningite e infecções bacterianas. É quase a mesma proteção da pentavalente acelular, que não cobre a hepatite B.

    Fora da lista do Programa Nacional de Imunizações e disponíveis apenas na rede privada, a opção a elas é a pentavalente oferecida pelo SUS –que não é acelular, e sim feita com células inteiras. Ela também protege contra difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae tipo B e contra a hepatite B.

    A indicação da Sociedade Brasileira de Imunizações é que os pais não deixem de vacinar as crianças e recorram à vacina da rede pública. "Não atrase o calendário, pois a vacina do SUS funciona muito bem. O risco de reação é maior, mas em termos de eficácia é tão boa quanto", diz o médico e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri.

    Foi o que a advogada Juliana Cruz de Almeida, 36, fez após procurar pela hexavalente, até mesmo em outras cidades. Vittorio, de cinco meses, tomou a primeira dose no SUS em janeiro. "Ele teve febre alta, o local da picada ficou inflamado e com inchaço quase uma semana."

    "Pelo menos metade das crianças acabam tendo febre ou outros sintomas", diz Marco Aurélio Palazzi Safadi, da Sociedade Paulista de Pediatria. "Mas, é importante dizer que ela não protege menos. Tem proteção, no mínimo, igual e há estudos que mostram que contra a coqueluche pode ser ainda melhor".

    PROCURA

    No próximo mês, Vittorio completa seis meses e vai precisar tomar mais uma dose. "Tive problemas para encontrar naquela época e acho que vou ter de novo", diz Juliana. O mesmo vale para a meningocócica B. Aprovada pela Anvisa (agência nacional reguladora) em 2015, ela não está disponível no SUS.

    A psiquiatra Camila Magalhães Silveira, 38, também encontrou dificuldades. Moradora da capital e mãe de um menino de dois anos e de outro de dois meses, ela achou uma dose da hexavalente em Santo André (Grande São Paulo). "Só quem tem filho nessa fase sabe como isso é importante e angustiante."

    Fabricante da pentavalente, a Sanofi Pasteur afirma que o produto está em falta devido a "um aumento mundial da demanda" e que empreende "todos os esforços para disponibilizar o mais rápido possível novas doses desta vacina". A previsão é ainda no primeiro semestre.

    A GSK também culpa a demanda maior e diz que espera regularizar o fornecimento da hexavalente em junho. A pentavalente tem "algumas doses" sendo liberadas neste mês, o que já vem ocorrendo com a meningocócica B.

    FORNECIMENTO IRREGULAR

    Apesar de disponível na rede pública desde o início da semana, a vacina contra a gripe continua difícil de se encontrar nas clínicas privadas de São Paulo. Conseguir se imunizar contra a doença que chegou mais cedo neste ano, principalmente no Estado de São Paulo, virou questão de sorte, ou de muita insistência.

    Os lotes que chegam às clínicas acabam rapidamente e muitas unidades já advertem em seus sites que não têm a vacina em estoque –tudo isso para evitar tumultos.

    Juliana conta que, após muito procurar, conseguiu que a família fosse vacinada contra a gripe. Apenas o filho mais novo, Vittorio, ficou de fora por não ter a idade mínima para a imunização (seis meses). "Acabou dando certo, venci o caos que está para achar [a vacina] e dei a tetravalente", afirma ela.

    Em 2016 o Brasil já registra 102 mortes relacionadas à gripe H1N1. Em todo o ano passado, foram 36. O Estado de São Paulo concentra 70 registros neste ano.

    PÚBLICA

    Na rede pública, as filas para tomar a vacina contra o a gripe H1N1 continuam. Diferentemente da rede privada, em que adultos e crianças mais velhas também são imunizados, nas unidades de saúde do SUS estão sendo vacinados desde a última segunda-feira (11) apenas gestantes, idosos e crianças com idade entre seis meses e cinco anos.

    As unidades de saúde funcionam das 7h às 19h. Como a Folha mostrou na terça (12), para fugir das filas que têm espera de até duas horas, idosos começaram a chegar bem mais cedo, antes das 5h.

    H1N1

    PERGUNTAS E RESPOSTAS

    Quais vacinas estão faltando na rede privada?

    Além da vacina da gripe, que esgotou em algumas clínicas e hospitais nas últimas semanas, estão em falta a hexavalente e pentavalente acelulares (feitas com vírus inativos) e a meningocócica B

    Contra quais doenças elas protegem?

    A meningocócica protege contra meningite do tipo B. Já a hexavalente evita difteria, tétano, coqueluche, poliomielite, hepatite B e infecções causadas pela bactéria Haemophilus, como a meningite. A única diferença da pentavalente acelular é que ela não cobre a hepatite B

    Quem deve tomar essas vacinas?

    As três são indicadas para crianças. A hexa e a pentavalente devem ser dadas em bebês de dois meses, com reforços aos 4 meses, 6 meses, um ano e 3 meses e aos 5 anos. Já a meningocócica deve ser aplicada aos 3, 5 e 7 meses e quando a criança tiver um ano e 3 meses

    Quanto elas custam?

    A hexa e pentavalente acelulares custam cerca de R$ 250 e a meningocócica varia de R$ 500 a R$ 550. Elas são oferecidas apenas na rede particular

    O que devo fazer se não encontrar essas vacinas na rede particular?

    É possível substituí-las pela vacina pentavalente da rede pública (contra as mesmas doenças da hexavalente, exceto a poliomielite). No entanto, ela tem mais chances de causar reações, como febre, dor e vermelhidão

    A vacina da gripe protege contra quais vírus?

    A vacina dada na rede pública é a trivalente, contra as gripes A (H1N1), A (H3N2) e um tipo da B. Na rede privada também é oferecida a quadrivalente –que protege contra mais um tipo da B

    Ela é 100% eficiente?

    Não, a eficácia é de 60% a 90%, dependendo da faixa etária do paciente e de outros fatores, como doenças crônicas

    Quanto ela custa?

    Cerca de R$ 120 (trivalente) e R$ 200 (quadrivalente). Na rede pública, é gratuita

    A vacina vale por quanto tempo?

    Ela demora de 3 a 4 semanas para começar a fazer efeito e é útil por 6 a 8 meses. Normalmente as cepas mudam, por isso é preciso fazer a vacinação todo ano. Crianças de 6 meses a 5 anos que estão sendo imunizadas pela primeira vez devem tomar uma segunda dose, com intervalo de 30 dias entre elas

    Já posso tomar a vacina?

    Na Grande SP, a vacinação foi antecipada para idosos, crianças de 6 meses a 5 anos e gestantes. A partir do dia 18, será a vez de mulheres que deram à luz há até 45 dias e doentes crônicos. A campanha nacional vai de 30.abr a 20.mai e a prioridade é dos grupos de risco. Na rede particular, a vacina já está disponível

    Quem faz parte dos grupos de risco?

    Crianças de 6 meses a 5 anos, idosos, profissionais da saúde, grávidas, mulheres que deram à luz há até 45 dias, presos, funcionários do sistema prisional, indígenas e pessoas com doenças crônicas ou condições clínicas especiais (diabéticos, obesos, transplantados etc.)

    Mesmo se eu não fizer parte dos grupos de risco, preciso tomar a vacina?

    O ideal é que todos tomem, mas, se não houver nenhum fator de risco, não é necessário enfrentar as longas filas que estão lotando clínicas e hospitais. É possível esperar a situação se tranquilizar ou aguardar o início da campanha nacional

    E se eu já tiver pegado a gripe H1N1, ainda preciso me vacinar?

    Sim. Quem foi infectado fica imunizado por um tempo (é bastante variável), mas pode voltar a pegar a doença

    Quem toma a vacina tem chances de ficar gripado como "reação" da vacina?

    Não. O máximo que pode acontecer são dores locais, febre baixa e mal-estar

    Estou resfriado, posso tomar a vacina?

    Sim, desde que não esteja com febre

    Há motivo para pânico?

    Não. Deve-se seguir as recomendações de higiene –como lavar as mãos com frequência, cobrir a boca quando for tossir ou espirrar e não compartilhar objetos pessoais como copos– e, assim que possível, tomar a vacina, especialmente os grupos de risco

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