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    Policial que espancou comerciante em loja de tapete é preso em São Paulo

    GUILHERME BRENDLER
    DE SÃO PAULO

    14/04/2016 14h31

    O investigador de polícia José Camilo Leonel, 51, foi preso nesta quinta-feira (14). Ele havia tido a prisão preventiva decretada pela juíza Maria Priscila Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São Paulo.

    Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Leonel foi levado para o presídio da Polícia Civil, na zona norte de São Paulo. O advogado de Camilo, Hugo Leonardo, entrou com um pedido de habeas corpus para que o policial responda em liberdade.

    Em janeiro deste ano, Camilo espancou e ameaçou com uma arma o comerciante Navid Saysan, 47, dono de uma loja de tapetes nos Jardins (zona oeste). José Camilo Leonel atuava na Corregedoria da Polícia Civil.

    O policial foi até a loja de Saysan a pedido da estudante Iolanda Delce dos Santos, 29, que havia se arrependido da compra de um tapete persa de R$ 5.000, realizada em dezembro do ano passado, e queria o dinheiro de volta.

    Reprodução
    O policial civil Jose Camilo Leonel, que espancou o comerciante Navid Saysan, teve a prisão decretada
    O policial civil Jose Camilo Leonel, que espancou o comerciante Navid Saysan, teve a prisão decretada

    A juíza aceitou a denúncia do Ministério Público por tortura qualificada, constrangimento ilegal, ameaça, denunciação caluniosa (quando acusa-se alguém de um crime sabendo que a pessoa é inocente), comunicação falsa de crime e abuso de autoridade.

    Segundo a decisão, Camilo possui amplo trânsito entre policiais e autoridades. Para a juíza, em liberdade, Camilo teria condições de tumultuar ou inviabilizar a instrução do processo, intimidando a vítima ou testemunhas.

    Na denúncia, o Ministério Público pediu o arquivamento da ação contra Iolanda Delce dos Santos, alegando que não existiam elementos suficientes para enquadrá-la. A juíza, no entanto, não aceitou a proposição dos promotores por entender que há claros indícios de participação dela nos crimes de tortura e de constrangimento ilegal.

    Segundo a decisão, as filmagens registradas no local das agressões indicam que Iolanda chamou Camilo, que o conhecia e que presenciou a ação do policial. A decisão e as principais peças do processo foram encaminhadas ao procurador-geral de Justiça, que poderá arquivar a ação ou nomear outro promotor para oferecer a denúncia.

    O caso ganhou repercussão depois que o programa "Fantástico", da TV Globo, exibiu imagens da câmera de segurança da loja de tapetes. Camilo aparece agredindo o comerciante com socos e chutes, além de apontar sua arma para o rosto de Saysan.

    O advogado de José Camilo Leonel, Hugo Leonardo, disse que prefere não se manifestar sobre o caso. A advogada de Iolanda não foi localizada.

    NOVA VERSÃO

    Em março, Camilo e Iolanda foram indiciados pela Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo. Ele foi enquadrado sob suspeita de cometer quatro crimes: injúria, constrangimento ilegal, falsidade ideológica e corrupção passiva. Ela foi indiciada sob a acusação de constrangimento ilegal, falsidade ideológica e exercício arbitrário das próprias razões -"fazer justiça com as próprias mãos".

    No inquérito instaurado, a Corregedoria concluiu ser evidente o vínculo entre a estudante Iolanda e o policial, já que os dois se encontraram momentos antes da agressão ao comerciante iraniano, que vive no Brasil desde a década de 1980.

    Logo após o episódio na loja de Navid Saysan, em boletim de ocorrência, Camilo e Iolanda negaram tanto que se conheciam como que tinham combinado a ação previamente. Ela havia dito à polícia que saiu da loja para ligar para a PM e que viu um carro da Polícia Civil passar em frente ao local. O policial, então, teria oferecido ajuda por pensar que se tratava de um assalto.

    Quando vieram à tona as imagens da câmera de segurança do restaurante em que os dois aparecem conversando, o investigador e a estudante mudaram a versão.

    Ela disse que, após ter o pedido de devolução do tapete negado, procurou um advogado, que conversou com um funcionário da loja por telefone e ouviu que Iolanda "deveria procurar seus direitos".

    Segundo essa versão, o advogado da estudante entrou em contato com Camilo para pedir orientação e passou o contato do investigador à sua cliente para que conversassem melhor sobre o caso.

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