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    Movimento polêmico defende ocupar praça ociosa nos Jardins

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    17/04/2016 02h00

    Karime Xavier - 13.abr.2016/Folhapress
    SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -13/04/2016 -13 :00h- Retrato do arquiteto Anthony Ling na praça General San Martin, nos Jardins. Ele fará no domingo um evento na praça com apresentações e comida para incentivar o uso das áreas verdes do bairro. - ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***COTIDIANO
    O arquiteto Anthony Ling na praça General San Martin, nos Jardins

    Uma praça nos Jardins, quase sempre vazia e cercada por casarões de muros altos, deve receber uma comportada ocupação neste domingo (17). O arquiteto gaúcho Anthony Ling, 29, criou o evento #OcupaJardins, que quer promover "o uso de espaços públicos ociosos no dia de maior demanda".

    Ling, amigos e colaboradores de seu site Caos Planejado devem levar cadeiras de praia, toalhas e lanches para a praça General San Martin, a uma quadra da rua Estados Unidos, na zona oeste de São Paulo, onde faixas espalhadas em dezenas de imóveis protestavam contra a tentativa de se permitir mais usos comerciais e adensamento nas vias com transporte público do bairro.

    O lobby contra o novo zoneamento venceu, o que levou Ling a organizar sua ocupação-protesto. "Se é para preservar 'um dos pulmões verdes da cidade', como diziam os moradores, que ele não seja usado só por poucos", diz o arquiteto.

    "A mudança do zoneamento reduziria emissões de CO2, evitando deslocamentos desnecessários", argumenta.

    Para ele, os moradores "deste oásis em meio à selva de concreto paulistana se transportam quase exclusivamente de automóvel". Com população escassa, casas recuadas e ausência de comércio, explica, a facilidade de se fazer atividades a pé "é precária". Ele compara Jardim América e Jardim Europa a "subúrbios americanos em uma área central da cidade".

    Seu #OcupaJardins quase foi proibido. Ling recebeu uma mensagem da Subprefeitura de Pinheiros em uma rede social, dizendo que qualquer evento com mais de 250 pessoas em área pública precisa de uma autorização, solicitada pelo menos com um mês de antecedência. Ling então descartou levar um food truck e até um DJ para animar o domingo.

    "Vamos estar na praça sem infra mesmo, quem quiser, apareça espontaneamente", disse à Folha."Quem pode ser contra usar uma praça ociosa, no dia em que o Ibirapuera fica superlotado?"

    Residente do vizinho Itaim, ele diz atravessar a avenida Nove de Julho à noite "para correr em um parque seguro e ainda pouco conhecido".

    Ling começou seu ativismo digital na faculdade, com um blog criado em 2009. Há dois anos, criou o site Caos Planejado, que leva ideias liberais para temas como zoneamento e transporte público, com artigos sobre as vantagens do adensamento e até da gentrificação (quando moradores de maior poder aquisitivo se mudam para áreas baratas ou degradadas).

    Ele admite ser uma raridade liberal em um métier dominado por marxistas e de "preconceito contra a construção e o lucro". Mas, embaralhando as ideologias no urbanismo, seus maiores críticos vêm da direita. "Sou chamado de petista, dizem que quero popularizar os Jardins."

    Ling vem de uma família liberal. Seu pai, o empresário William Ling, fundou o Instituto de Estudos Empresariais e oferece bolsas de estudo de pós-graduação no exterior.

    A família, de origem chinesa, estabeleceu-se em Santa Rosa (RS) nos anos 50, começando com uma pequena indústria de óleo de soja. O jovem também vai lançar neste ano um aplicativo para transporte coletivo sob demanda.

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