• Cotidiano

    Monday, 20-May-2024 12:01:50 -03

    Desabrigados invadem prédio do Minha Casa, Minha Vida na Grande SP

    WILLIAM CARDOSO
    DO "AGORA"

    19/04/2016 02h00

    Robson Ventura/Folhapress
    A aposentada Rosália de Santana chora ao pensar em deixar o prédio invadido
    A aposentada Rosália de Santana chora ao pensar em deixar o prédio invadido

    Famílias que perderam tudo em uma enchente em março no Jardim Panorama, em Cotia (Grande SP), invadiram um condomínio do programa Minha Casa, Minha Vida que estava prestes a ser entregue para famílias contempladas em sorteio.

    Cerca de 80 famílias desabrigadas ocuparam três blocos do condomínio Parque Arco-Íris 2, na madrugada entre os dias 10 e 11 de março, logo após o temporal. Desde então, eles aguardam uma alternativa por parte da prefeitura local, administrada por Antonio Carlos de Camargo (PSDB).

    A dona de casa Kátia Machado Martinez, 19 anos, afirma que não tinha condições de permanecer na casa onde morava, em área de risco, que ficou destruída com a chuva. "A própria assistente social falou para eu sair de lá, porque o cheiro estava muito forte. O meu filho ficou cheio de manchas no corpo", diz, sobre Pietro, de três meses.

    No condomínio, não há conforto. "Não consigo nem trazer fogão para fazer comida aqui. Vivo de lanche ou tenho que comprar marmitex. Está bem difícil", afirma.

    O ajudante-geral Ricardo da Silva Claro, 32, deixou o que sobrou da casa onde morava com a mulher, a filha e a enteada só com as roupas e se mudou para um apartamento no condomínio. "O certo seria deixar a gente aqui. A gente quer pagar."

    O advogado Silvio Cabral afirma que as famílias não foram notificadas a respeito da reintegração. Eles diz que já entrou com recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a decisão de devolver os prédios à construtora. "Se acontecer a reintegração, que a prefeitura dê o bolsa-aluguel", afirma.

    Enquanto não ocorre a definição, 160 famílias contempladas em sorteio esperam que os imóveis sejam desocupados para se mudar.

    Robson Ventura/Folhapress
    Ricardo, Kátia com o filho Pietro e Rosália em frente ao prédio invadido
    Ricardo, Kátia com o filho Pietro e Rosália em frente ao prédio invadido

    A Prefeitura de Cotia afirma que a obra ainda não foi entregue ao município pela construtora. A administração municipal diz que, assim que ocorrer a reintegração de posse por parte da construtora, o setor de assistência social verificará a situação das famílias e dará suporte às necessitadas. Segundo a prefeitura, a previsão é de entrega até dia 30 aos contemplados em sorteio.

    A construtora Novolar diz que foi surpreendida com a invasão. "Posteriormente solicitamos à Justiça reintegração de posse, sendo que esta expediu, liminarmente, mandado para reintegração de posse, no 17 de março de 2016, para desocupação do imóvel. Ocorre que a oficial de Justiça que esteve no local dia 28 de março não conseguiu, em acordo, a desocupação", diz, em nota. O Ministério das Cidades, da gestão de Dilma Rousseff (PT), diz que aguarda manifestação do Banco do Brasil para ter mais informações sobre o caso.

    A aposentada Rosália de Santana, 61 anos, se desespera ao lembrar da casa que foi, literalmente, por água abaixo com a chuva de março. Sem saída, ela se mudou para o condomínio do Minha Casa, Minha Vida.

    "O meu barraquinho de tábua desmanchou e tive que vir para cá. Imagina o que é alguém que trabalhou a vida inteira, desde os 12 anos de idade, e que agora não tem casa para morar? Eu carregava cacau quando ainda era menina na Bahia, sempre fui trabalhadora", afirma Rosália.

    Como os apartamentos ainda não têm água e luz disponíveis, a aposentada passa parte do dia na casa de uma amiga e volta ao prédio à noite para poder dormir. "Está todo mundo se sentindo derrotado", diz. Sobre o direito de quem foi sorteado de viver nos apartamentos, Rosália diz que é preciso ter compreensão. "A minha precisão é profunda, maior do que a deles. Bem ou mal, eles ainda têm um canto para morar. Eu, não", afirma.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024