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    Parques de Haddad têm equipe mínima de limpeza e acúmulo de lixo

    EMILIO SANT'ANNA
    DE SÃO PAULO

    20/04/2016 02h00

    Em um canto do parque Buenos Aires, José Pereira Silva, 36, usa um galho com ramos secos para varrer as folhas sobre a grama. A rigor, ele nem deveria estar ali. Silva cumpre seu último mês de contrato no ponto de reciclagem, do lado de fora da área verde, em Higienópolis, na região central de São Paulo. Está lá, voluntariamente, para ajudar os três funcionários da limpeza que sobraram.

    Assim como o Buenos Aires, outros parques municipais de SP funcionam "com o mínimo necessário" de funcionários de limpeza, manutenção e segurança, após o fim de contratos com a gestão Fernando Haddad (PT). Fazem parte dessa lista os parques Mário Covas, Aclimação, Independência, Vila Prudente e Trianon, que tiveram os contratos de manutenção encerrados em 31 de março.

    Nos parques Alfredo Volpi, Orlando Villas Boas, Luis Carlos Prestes, Previdência, Vila dos Remédios, Morumbi Sul e Zilda Natel, os contratos se encerraram em 18 de março. No Ibirapuera, o que venceu foi a prestação do serviço terceirizado de vigilância e segurança patrimonial.

    A manutenção e a limpeza desses locais, no entanto, é o que chama mais atenção. Apesar do calor dos últimos dias em São Paulo, já é outono -o que diminui a necessidade de poda das árvores e aumenta a de varrições.

    Nesta terça (19), a poucos metros do gramado que Silva suava para limpar, ainda havia lembranças "do piquenique de uma turma" no domingo: caixas de madeira deixadas atrás de uma árvore. "Venho dar uma força porque sobraram três para limpar tudo", diz. O Buenos Aires tem 25 mil m², o equivalente a três campos de futebol.

    O resultado disso já é sentido pelos frequentadores. "Você já viu como estão os bebedouros?", pergunta Daniela Ianuzzi, 34, que trabalha passeando com cachorros. "Já teve casos de animais e de gente com infecção."

    Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Vereadores de São Paulo, vereador Gilberto Natalini (PV) há um desvio de finalidade no uso do Fundo Especial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Fema), que foi usado para o pagamento dos contratos de manutenção e segurança dos parques.

    O fundo é abastecido por dotações orçamentárias, multas por infrações ambientais, entre outras fontes. "A destinação é para novos projetos ambientais e não para pagar manutenção de parque, que deveria ser feita com dinheiro do orçamento", afirma Natalini, crítico da gestão Haddad e da redução do número de funcionários nas áreas verdes da cidade.

    No parque da Aclimação, segundo duas das quatro funcionárias da limpeza que sobraram, o serviço era feito por 23 pessoas, nos 112 mil m². Dos dois banheiros, só um está aberto. Em frente ao fechado, uma lata de lixo coberta por um pedaço de madeira e rodeada por mosquitos já seria o suficiente para afastar qualquer desavisado.

    "Mesmo as folhas no chão, não era para ser assim", afirma a personal trainer Alessandra Mansour, 37. "Mas hoje até que está limpo", completa. "Acho que é mais o vento que está limpando", rebate outra frequentadora.

    OUTRO LADO

    Os parques municipais de São Paulo não ficarão sem manutenção, limpeza e segurança, de acordo com o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Rodrigo Ravena. "Estão mantidos minimamente segurança, manejo e manutenção", diz.

    Ele afirma que os contratos estão em fase de renegociação com as empresas terceirizadas. "Tenho obrigação de renegociar, por conta de crise econômica e queda de arrecadação." O objetivo da Prefeitura de São Paulo é que as empresas que já têm contratos assumam os serviços em mais parques e por valor menor. "A média da economia, por contrato, é de 20%."

    Hoje, esses serviços nos 107 parques da cidade consomem R$ 14 milhões ao mês. "Tenho que readequar esse reequilibrio financeiro que a cidade tem que fazer com o serviço", afirma o secretário. A negociação se estende há dois meses e, segundo Ravena, nos próximos "15 a 20 dias" a situação estará normalizada. "Houve diminuição de serviço? Houve em alguns parques, em outros, não."

    Ravena lamenta que a secretaria tenha precisado usar cerca de R$ 2 milhões em recursos do Fundo Especial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Fema) para o custeio dos contratos, mas diz que foi necessário e obteve autorização dos órgãos de controle.

    Sobre o Ibirapuera, ele diz que não haverá prejuízos, pois conta com a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM). "Não está abandonado o parque, nem estará."

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